Elô acordou com o gosto de ferro na boca e o som de alguém sussurrando seu nome.
— “Elô… não dorme… se você dormir, eu desapareço…”
Mas quando abriu os olhos, não havia ninguém ali.
Estava deitada no chão da biblioteca subterrânea, o Guardião do Esquecimento havia desaparecido, e as portas de madeira haviam sumido como se jamais tivessem existido.
A única coisa que restava era a esfera em seu bolso — agora fria, quase opaca.
E, dentro dela, uma nova gravação pulsava, como um coração de vidro prestes a trincar.
Ela não a escutou de imediato.
Algo dentro dela sabia que não estava pronta para o que viria a seguir.
Porque algo havia mudado.
No instante em que mergulhou na memória de Clara, Elô se fragmentou.
Ela ainda era ela.
Mas agora... havia vozes demais no silêncio.
Lembranças que não eram suas a interrompendo no meio de frases.
Palavras que ela jamais usara dançando em sua língua com uma familiaridade assustadora.
Gostos, medos, reflexos.
Ela começava a rir do mesmo jeito que Clara.