O instante em que a mão de Elô atravessou o espelho foi como mergulhar em um lago gelado e viscoso. O vidro se desfez em ondas líquidas que puxaram seu corpo para dentro, sugando-a inteira em um redemoinho de escuridão.
Ela tentou gritar, mas não havia ar, apenas um vazio sufocante. O coração batia descompassado, o som ecoando dentro de sua própria cabeça. Quando os pés finalmente tocaram o chão, Elô caiu de joelhos, ofegante, tossindo como se tivesse renascido.
O ambiente era estranho. Estava numa cópia distorcida da sala do espelho. O mesmo tapete, as mesmas paredes, mas tudo parecia apodrecido, consumido pelo tempo. As velas eram sombras apagadas, as paredes cobertas por rachaduras que sangravam uma névoa negra.
Elô ergueu os olhos e viu Clara.
A amiga estava de pé, a poucos metros dela, mas parecia uma sombra de si mesma. Os cabelos desgrenhados, os olhos fundos, a pele quase translúcida. Quando percebeu Elô, correu em sua direção, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Elô! Você veio