A terça-feira amanheceu estranha, como se o ar carregasse uma expectativa silenciosa. Isadora se levantou cedo, ainda sentindo no corpo a tensão dos últimos dias. A denúncia na delegacia lhe dera uma coragem nova, mas também trouxera a certeza de que Gabriel não recuaria facilmente. Ele sempre vivera em meio a influências, amizades estratégicas e portas abertas em lugares onde ela sequer podia entrar.
Na livraria, o dia começou com movimento normal: estudantes em busca de material, mães procurando livros para os filhos, senhores atrás de edições raras. Mas logo algo destoou. Uma cliente habitual, que sempre a tratava com carinho, a olhou de maneira diferente.
— Você é a moça da confusão de sábado, não é? — disse, baixando a voz, mas com curiosidade evidente. — Ouvi dizer que até polícia teve que se envolver.
Isadora sentiu o rosto arder. — Não houve confusão. Houve alguém que tentou me intimidar.
A cliente sorriu com desdém. — É, mas na cidade as versões correm rápido, minha filha. E