A madrugada terminou em silêncio, mas não em paz. O ar na casa parecia impregnado por uma energia densa, como se a criatura derrotada ainda tivesse deixado rastros invisíveis em cada parede. As sombras os observavam, imóveis, como testemunhas silenciosas daquilo que Elô havia feito.
Miguel estava sentado perto da porta, o braço enfaixado com tiras improvisadas de pano. O corte não era profundo, mas o sangramento custara a parar. Clara permanecia encolhida em um canto, abraçada a si mesma, os olhos vermelhos de tanto chorar, ainda assustada com a violência da cena.
E Elô... Elô não conseguia parar de olhar para as próprias mãos. A pele ainda trazia resquícios da escuridão que se dissolvia lentamente, como fumaça que se desfaz após o fogo. Por um momento, ela não sabia se aquelas mãos ainda eram suas.
— Elô... — Miguel quebrou o silêncio, a voz baixa, quase hesitante. — O que aconteceu com você lá atrás?
Ela demorou a responder. As palavras vinham pesadas, como se cada uma fosse uma ped