A madrugada parecia interminável. O silêncio da casa era tão profundo que cada estalo da madeira ecoava como um trovão. O vento passava pelas frestas, carregando consigo um assobio inquietante, como se o próprio ar estivesse anunciando que algo estava prestes a acontecer.
Elô permanecia sentada, as pernas cruzadas, os olhos fixos na janela quebrada. O reflexo da lua distorcida parecia observar cada movimento seu, como um espelho traiçoeiro. Miguel, exausto mas irredutível, mantinha-se de guarda a poucos passos dela, a mão firme no cabo de uma faca improvisada. Clara, encolhida num canto, dormia de olhos semicerrados, como se tivesse medo de se entregar totalmente ao descanso.
Foi nesse silêncio tenso que Elô sentiu — antes mesmo de ouvir —. Algo se aproximava. Não passos, não respirações, mas uma presença rastejando do lado de fora, roçando contra as paredes, percorrendo o chão com uma cadência irregular.
— Miguel... — ela sussurrou. — Não estamos sozinhos.
Ele se ergueu imediatamente