A viagem começava antes mesmo da estrada. Isadora acordou naquela manhã com o coração acelerado, não por medo, mas pela dimensão do que se abria diante dela. A notícia de que fora convidada para falar em um encontro nacional se espalhara rápido, e agora todos pareciam depositar sobre seus ombros a responsabilidade de representar não apenas uma cidade, mas uma ideia: a de que era possível resistir ao silêncio, transformar dor em palavra e palavra em ponte.
Ela se olhou no espelho da pensão com estranhamento. Via ainda as marcas do passado — os olhos que já tinham chorado demais, a pele ainda cansada de noites maldormidas. Mas via também outra coisa: uma firmeza que não existia antes, uma luz nos traços que não era apenas dela, mas reflexo da rede que se formara ao redor. Vestiu-se com simplicidade, colocando na bolsa apenas o caderno, um livro e o envelope do convite.
Rafael insistira em acompanhá-la até a rodoviária. Enquanto caminhavam, ele falava de banalidades — o café que queimava