A quinta-feira amanheceu com uma luz oblíqua, dessas que não impõem certeza nenhuma. Isadora abriu os olhos antes do primeiro barulho da rua e ficou alguns minutos deitada, escutando o prédio respirar: um cano que range, um chinelo arrastado no corredor, o rádio de pilha do apartamento ao lado procurando a voz certa. Havia um descanso novo em seu corpo, mas também uma cautela afinada. Quando a história ganha o país, a cidade muda de tom, e quem se acostumou a mandar no tom tenta recuperar o microfone.
Na padaria, Rafael já a esperava com o jornal dobrado em quatro. O texto principal era uma continuação da matéria do dia anterior, com depoimentos de clientes e pequenos retratos de uma comunidade que se juntava ao redor de uma livraria. Ele não disse “é vitória”; disse apenas: “é lastro”. Isadora tomou o café num gole longo e assentiu. Lastro: a palavra pousou firme, como um peso bom que impede o barco de virar à primeira onda.
Na livraria, a manhã correu com um rumor manso: gente entra