A sexta-feira amanheceu com uma claridade tímida, filtrada por nuvens espessas, como se o próprio céu refletisse a tensão suspensa nos dias anteriores. Isadora abriu os olhos devagar, lembrando-se do som metálico da porta de emergência, do bouquet guardado em caixa, das viaturas que levaram as imagens na madrugada. Mas dessa vez não havia sobressalto. Havia cansaço, sim, mas também uma determinação que se consolidava a cada ataque frustrado de Gabriel.

Desceu as escadas da pensão e encontrou o porteiro, ainda no turno da noite, tomando café em copo de plástico. Ele ergueu o queixo como quem diz “estamos de guarda”. Isadora sorriu em resposta, grata por aquele tipo de vigília que não precisa de palavras. Ao sair, sentiu que a rua estava diferente: havia olhos, mas já não eram apenas os olhos que vigiam com ameaça. Eram também os olhos que acompanham com cuidado, atentos ao que não deve mais ser calado.

Na livraria, o gerente aguardava com uma expressão entre orgulho e seriedade. Coloca