A mesa estava posta de forma simples, mas cheia de significado. Dois pratos, dois copos, dois talheres. Eu havia preparado cada detalhe, desde o tempero suave no frango grelhado até a salada colorida que lembrava os jantares que minha mãe fazia quando ainda estava viva. O papai se sentou diante de mim e, pela primeira vez em muito tempo, eu vi um sorriso sereno em seus lábios.

Estávamos quase terminando a refeição quando a porta da frente bateu. O salto apressado ecoou pelo mármore e a voz enjoada de Clarice preencheu o ambiente:

— Só tem dois pratos na mesa? — ela perguntou, arqueando a sobrancelha, com aquele tom ácido que parecia sempre pronta para humilhar.

O papai levantou o olhar devagar, firme, como quem já não se deixava intimidar.

— Vocês não estavam em casa, Clarice. Aliás, quase nunca estão. Eve preparou o jantar apenas para nós dois.

Clarice piscou, surpresa com a naturalidade com que ele disse aquilo, e retrucou:

— E