####O INFERNO DE EVY

JEFFREY

Samantha morreu.

E agora? Eu tenho que encarar a empresa, a vida, a filha que chora todas as noites pedindo pela mãe… e eu não sei por onde começar. Estou em choque. Minha cabeça parece explodir com o peso daquilo que descobri.

Clarice

Eu descobri que foi ela quem envenenou Samantha. Não foi um boato, não foi uma suposição. Foi da boca dela que ouvi a confissão. Com o mesmo tom frio com que se pede um café, ela me disse: “Eu aguentei nove anos com essa mulher. Você não se divorciou, então eu dei um jeito, agora acabou.”

E acabou mesmo.

Samantha se foi. Levei-a até o túmulo, vi minha filha Evy tremer diante do caixão, e senti algo dentro de mim quebrar de um jeito irreversível.

Eu não amei Samantha como ela merecia, eu sei disso. Não da forma que um homem deve amar sua mulher. Mas aprendi a admirar sua força, a respeitar sua generosidade, a valorizar a mãe maravilhosa que ela foi para a nossa filha. Ela era uma mulher brilhante, com um coração enorme… e, no fim, foi destruída pela inveja de outra.

Meu Deus, e eu não posso denunciar Clarice.

Como posso colocar Clarice atrás das grades, se ela é mãe da minha filha Lilibeth? O que será da menina se eu a expuser? O que será da minha própria reputação, da empresa, se essa verdade vier à tona?

Eu me lembro do dia em que tudo começou a desmoronar. Quando meu sogro me chamou no escritório, já debilitado pela doença, me pediu que cuidasse da filha dele. Ele me tratava como um filho, confiava em mim mais do que em qualquer outro homem. Disse que eu era o único em quem ele confiava para entregar o futuro de Samantha. E eu não tive coragem de dizer a ele que já era casado.

Conversei com Clarice naquela época, expliquei que não havia escolha. Ela aceitou se divorciar de mim, mas deixou bem claro: “Case-se com ela, eu espero mas, quando chegar a hora, você se divorcia dela e volta para mim.”

Na época, eu acreditei. Acreditei que conseguiria equilibrar as duas vidas, que Clarice aceitaria esperar. E ela esperou… nove anos, ao lado de Samantha, disfarçada de secretária perfeita, sempre atenciosa, sempre prestativa. Ninguém poderia desconfiar, nem eu.

E agora? Agora sei que, enquanto eu confiava, ela envenenava Samantha, dia após dia. Não diretamente, não com as próprias mãos, mas com a frieza de quem acha que está no direito de decidir quem vive e quem morre.

Samantha se foi. Evy chora todas as noites, e Lilibeth, sorri sem saber de nada. É filha de Clarice, inocente, e eu não tenho o direito de jogar sobre ela o peso da monstruosidade da mãe.

Mas como vou carregar isso dentro de mim? Como vou conviver com a culpa de saber que a mulher que me casei para agradar meu sogro foi destruída, pela outra que jurei proteger?

Eu estou preso, acorrentado ao meu próprio erro. Não amei Samantha como deveria, mas também não tenho coragem de fazer justiça contra Clarice.

O que me resta, meu Deus, empresa, duas meninas e o silêncio?

Só sei que hoje, diante do túmulo de Samantha, eu entendi que o amor não correspondido também pode deixar cicatrizes eternas.

E eu vou carregar a minha até o último dos meus dias.

JEFFREY

Clarice apareceu na minha sala dias depois do enterro de Samantha. Eu ainda mal conseguia respirar sem sentir o vazio daquela ausência, mas ela não parecia disposta a esperar.

— Jeffrey, vou lhe dar seis meses de luto. Seis. — sua voz era gelada, cortante. — Depois disso, você vai se casar comigo de novo e me levar para aquela mansão.

— Como você tem coragem de falar isso agora? — rebati, incrédulo. — A Samantha mal foi sepultada.

Ela sorriu, um sorriso venenoso.

— Coragem? Eu chamo isso de oportunidade. Ou você faz o que eu digo, ou eu abro a boca. Posso revelar a todos que você já era casado comigo quando aceitou o pedido do seu sogro. Que se divorciou apenas para obedecer ao desejo dele e casar com a filhinha perfeita.

Engoli seco. Ela tinha razão: o erro foi meu. O velho confiou em mim, tratou-me como filho, e eu não tive coragem de confessar que já tinha uma esposa. Selina, Clarice, tanto faz o nome que ela usasse… ela sempre foi a mesma mulher. Eu me divorciei dela porque o pedido de um homem moribundo pesou mais que meu amor frágil.

E agora, preso àquela chantagem, eu não tinha saída.

Seis meses se passaram como uma sentença marcada no calendário. Próximo da data que ela mesma determinou, sentei-me diante da minha filha. Eve me olhava com aqueles olhos verdes tão parecidos com os da mãe. Como eu poderia feri-la com aquilo? Mas menti.

— Filha, você precisa de uma mãe. Não para substituir a sua, mas para que não se sinta tão sozinha. Você lembra da Clarice?

— A secretária da mamãe?

Assenti.

— Ela será sua madrasta. E tem uma filha, Lilibeth. Dois anos mais velha que você. Agora você terá uma irmã, alguém para brincar, para conversar.

Os olhos de Eve brilharam.

— Que bom, papai. Eu sei que ela não vai substituir a mamãe, mas pelo menos eu vou ter uma irmã.

Sorri, mas por dentro sangrei. Enganei minha filha. Enganei a mim mesmo.

Casei-me com Clarice e a levei para dentro da mansão. Achei que seria apenas uma adaptação, que a promessa de uma “nova família” poderia amenizar a dor.

Mas me enganei.

IVY

No início, eu realmente acreditei no papai. Pensei que ter uma irmã fosse bom. Pensei que a solidão iria embora.

Mas a felicidade durou pouco. Muito pouco.

Na primeira semana, Lilibeth entrou no meu quarto e disse que queria ficar nele.

— Papai, não! Esse quarto foi a mamãe que arrumou para mim! — supliquei.

Ele suspirou, cansado:

— Deixa, minha filha, a Lilibeth é mais velha, precisa de mais espaço. Você fica no quarto ao lado, eu mando arrumar do jeito que quiser.

Eu assenti, engolindo o choro. O quarto que era o último pedaço da minha mãe foi arrancado de mim como se fosse nada.

E ali começou o inferno.

Clarice, na frente do papai, sorria e me chamava de “querida”. Mas quando ele saía, o veneno escorria:

— Você não passa de um peso morto.

E Lilibeth ria, sempre ria.

Um a um, os empregados que me viram nascer foram sendo demitidos. Clarice dizia que queria renovar a casa. Na verdade, queria silenciar testemunhas. Os novos empregados obedeciam apenas a ela e à filha.

E eu, a herdeira da mansão, passei a viver como uma intrusa dentro da própria casa.

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