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Capítulo 7 – O Eco das Mentiras

A neve começava a cair em flocos grossos quando Helena deixou o táxi diante de um pequeno hotel no centro de Paris. Ela ajeitou o lenço no pescoço, puxou a mala de rodinhas e respirou fundo. Na bolsa, levava uma carta antiga. Nas veias, corria o medo de que tudo o que protegera por seis anos estivesse prestes a ruir.

Rafael era sua vida. O neto que criara como filho. O segredo que jurara à filha nunca revelar. Mas agora que Camila havia reaparecido, envolvida com aquele homem perigoso outra vez, Helena sabia que precisava agir antes que o passado os engolisse de vez.

Camila fitava a tela do celular como se ela fosse capaz de devolver o tempo. A mensagem piscava ali, simples e inocente, mas devastadora:

"Mamãe?"

A voz de Rafael parecia ecoar em sua mente, como se ele ainda fosse um bebê nos seus braços. Mas agora ele estava grande. Seis anos. Já sabia escrever, embora com erros. Helena havia rompido o acordo. Ou talvez o menino tivesse descoberto por si.

— Por que agora? — murmurou, para ninguém em especial.

Leonardo apareceu na porta do quarto.

— Camila, os Lucien querem adiantar a próxima reunião. Eles ficaram impressionados.

Ela não se moveu.

— Ele me mandou uma mensagem.

Leonardo parou.

— Quem?

— Meu filho.

— O seu... — Ele se calou por um instante. — Isso muda tudo.

Ela o encarou.

— Sim. Agora você entende por que não posso continuar com esse jogo.

— Camila, esse garoto é meu filho?

— Sim. — A palavra escapou como um tapa. — Rafael é seu filho.

Leonardo deu um passo para trás. Como se algo dentro dele se rompesse.

— Você... escondeu isso de mim?

— Eu tentei te contar! Mas você desapareceu! E depois... o que você acha que o seu pai teria feito comigo?

Leonardo levou a mão ao rosto. A verdade era um golpe. Um filho. O tempo perdido. O amor que ele sufocou achando que era mentira. Tudo se embaralhava.

— Onde ele está agora?

— Em Paris. Com minha mãe. Mas...

— Mas o quê?

— Alexandre descobriu.

Leonardo girou sobre os calcanhares, os olhos em chamas.

— Aquele desgraçado está atrás do meu filho?

Camila assentiu. As lágrimas agora rolavam.

— Eu não sei o que ele vai fazer.

Leonardo se aproximou dela, mais sério do que nunca.

— Então precisamos voltar. Agora.

Na Aragon Corporation, Alexandre olhava para o retrato antigo de Camila na tela do computador. Jovem, sorridente, inocente. Diferente da mulher fria e determinada com quem se encontrara no baile.

Helena estava a caminho. E se a criança fosse mesmo de Leonardo, ele teria a arma perfeita. Um herdeiro escondido. Um escândalo internacional.

Mas... parte dele vacilava.

Camila sempre fora o seu ponto fraco. E saber que ela sofrera tanto o corroía mais do que estava disposto a admitir.

Em Montmartre, Enzo fechava a pequena floricultura que sua avó lhe deixara. Desde a conversa com Júlia, ele sabia que as mentiras estavam desmoronando. E que logo Camila precisaria de apoio. Ele fora o único a saber desde o começo sobre Rafael. O único que a ajudara a fugir.

Júlia apareceu no portão.

— Você vai até ela?

— Preciso. Se Camila cair... vai cair sozinha.

— E o que ela sente por Leonardo?

— O mesmo que ela sente desde sempre. Dor... e desejo.

Júlia apertou os punhos.

— Isso vai destruir todos nós.

Enzo assentiu. Porque sabia: a tempestade estava apenas começando.

Helena encontrou Alexandre em um café discreto. Ela estava nervosa, mas também determinada.

— Senhor Aragon... espero que essa conversa não seja um jogo.

— Depende do que você tem a dizer.

Helena tirou a certidão da bolsa. Alexandre leu atentamente. A mão tremia.

— Então é verdade...

— Camila nunca quis escondê-lo. Mas temia por ele. Ela foi ameaçada.

— Por Leonardo?

Helena hesitou.

— Por homens piores que Leonardo. O pai dele. Os conselheiros. Camila foi alvo de uma armação. Eles precisavam que ela desaparecesse. E conseguiram.

Alexandre respirou fundo.

— Eu posso protegê-lo.

— Não quero proteção. Quero silêncio. Rafael não pode ser usado como peão.

— E se ele for meu filho? — Alexandre arriscou.

Helena sorriu, amarga.

— Não é. Você nunca a teve. Não de verdade.

No aeroporto de Genebra, Leonardo e Camila embarcaram para Paris em um jato particular. Ela não conseguia falar. Ele, por outro lado, não tirava os olhos dela.

— Você me traiu — disse ele, finalmente.

— Eu sobrevivi.

— Quantas vezes você quis me matar?

Ela o encarou com frieza.

— Ainda quero.

Ele sorriu, mas não de alegria.

— Então me diga. Por que ainda está aqui?

— Porque agora eu entendi que o ódio e o amor... são faces da mesma moeda.

Ele se aproximou, o rosto a centímetros do dela.

— E se eu quiser jogar essa moeda outra vez?

Ela sussurrou:

— Você vai perder.

Ao aterrissarem em Paris, Camila recebeu uma mensagem de Enzo.

"Helena está com Alexandre. Eles já sabem tudo."

O coração dela acelerou. Leonardo também leu a mensagem por cima do ombro dela.

— Leve-me até ele.

— Não é hora.

— É agora ou nunca.

No prédio da Aragon Corporation, Alexandre os aguardava.

O reencontro foi silencioso. Nenhum aperto de mão. Nenhum sorriso.

— Eu sei tudo — disse Alexandre. — E não estou aqui para brigar.

Camila cruzou os braços.

— Então por que chamou Helena?

— Porque eu queria saber se era verdade. E agora que sei... estou disposto a proteger o garoto.

Leonardo deu um passo à frente.

— Você não tem esse direito.

— E você tem? Onde estava nos últimos seis anos?

— Isso não te diz respeito.

— Diz. Porque Rafael pode ser usado contra você. E se algo acontecer com ele... eu juro que destruirei tudo o que você ama.

Camila interveio.

— Basta!

Ela estava no limite.

— Vocês dois querem provar quem tem mais poder. Enquanto isso, meu filho... nosso filho... está em risco. Eu não vou permitir que joguem com ele como fizeram comigo.

Silêncio.

Leonardo foi o primeiro a ceder.

— Quero conhecer meu filho.

Camila assentiu.

— Amanhã.

Alexandre a encarou.

— E depois?

— Depois... vocês decidem se querem continuar se odiando.

Ela virou-se e saiu. E por um instante, ambos os homens perceberam: ela não era mais uma peça. Ela era o tabuleiro.

No dia seguinte, Camila levou Leonardo até o parque onde Rafael brincava sob a supervisão de Helena.

O garoto corria entre as folhas secas, rindo.

Quando viu Camila, correu até ela.

— Mamãe!

Ela o abraçou com força, as lágrimas caindo livremente.

Leonardo se aproximou devagar.

— Camila...

Ela se ajoelhou ao lado do menino.

— Filho... esse é o seu pai.

Rafael olhou para Leonardo com curiosidade. Então sorriu.

— Você gosta de dinossauros?

Leonardo engoliu em seco.

— Acho que vou gostar, se você me ensinar.

Camila observou os dois juntos. E pela primeira vez em muito tempo... sentiu esperança.

Mas do outro lado da rua, uma figura os observava de dentro de um carro preto.

Um dos homens do falecido pai de Leonardo.

— Ele tem um herdeiro.

E isso mudava tudo.

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