Esse deveria ser o dia mais feliz da minha vida. Estava a caminho da igreja, numa limousine, segurando o meu buquê de rosas brancas. Mas quis o destino que algo terrível acontecesse. Dois carros pretos se colocaram no caminho, impedindo que continuássemos o nosso trajeto. De dentro deles desceram quatro homens de preto. Uma cena assustada. Eles me arrancaram puxando-me pelo braço, enquanto eu me debatia sem entender direito o que acontecia.
Em questão de segundos, me vi sentada num carro, entre dois homens que me seguravam à força.
Como eu tentava sair dali de qualquer jeito, eles colocaram um lenço no meu rosto, e o cheiro forte me fez perder os sentidos.
Acordei num quarto estranho, podia ouvir o barulho do mar vindo da sacada. Antes que eu tentasse entender o que se passava, à porta de abriu e dois homens sisudos entraram e me arrastaram dali, mesmo eu gritando por socorro.
Fui jogada dentro de uma sala, sem nenhuma delicadeza. Eu já estava descabelada e a maquiagem desfeita.
Respirei fundo e senti medo pela primeira vez, desde que fui abduzida por aqueles homens que me tiraram da limousine.
Um homem estava sentado atrás da mesa e estava cabisbaixo. Ele também usava terno, mas eu poderia jurar que era o chefe, o mandante do meu sequestro. Ficamos só eu e ele ali.
— Sente-se!— era uma ordem.
Obedeci prontamente, mas não deixei de observar que ele cheirava a perfume. Um aroma suave, envolvente, tinha qualquer coisa de esquesito ali.
De repente, ele ergueu a cabeça jogando os cabelos finos para trás. Ele era tão sedutor!
Levantou-se e afrouxou a gravata que parecia lhe sufocar. Soprou o ar pela boca carnuda, e me olhou, apertando os olhos muito verdes, que criavam uma harmonia com o tom da camisa de seda, por baixo do paletó.
Engoli em seco, assustada. Eu queria correr, ficar, não sei, enquanto ele vinha se aproximando devagar, me encarando. Não entendia bem o que ele pretendia, se iria me matar, ou se só queria me provocar pavor, mas uma coisa eu tinha certeza, ele tinha consciencia da sua beleza.
— Está com medo de mim?
Eu meneei a cabeça negando, isso só o deixou mais atrevido.
Quando chegou muito perto parou, encostado à perna na minha coxa.
— Achou mesmo que iria se casar com aquele idiota? — Agora ele tocava o meu rosto com os dedos suavemente.
Comecei a ficar ofegante, meu peito estufado, às renda do vestido saliente, demonstrava o meu estado de pavor.
— Quem é você? Por que está fazendo isso comigo? — Minha voz tremia.
Ele parecia se divertir com a minha fragilidade.
— Levante-se!
Arrastei a cadeira para trás, ela quase caiu, mas consegui colocá-la entre eu e ele, e apoiei o meu corpo na parede.
Ele riu no canto do lábio e puxou a cadeira violentamente. Olhei rapidamente para vê-la se chocar no chão.
— Me deixe ir embora, eu já devia estar me casando a essa hora!— Estava apavorada, meu corpo inteiro tremia.
Ele avançou na minha direção e pressionou o seu corpo contra o meu.
— Quem é você, por que me trouxe aqui?
Ele não respondeu, ficou olhando a minha boca por um instante, depois afastou-se e foi sentar atrás da mesa novamente.
Eu corri para apanhar a cadeira do chão, sem levantar os olhos que já lacrimejavam.
De repente, a porta se abriu e dois homens fortes, os mesmo que me trouxeram ali, entraram afobados.
— O senhor chamou?
Eu tinha certeza que um botão de alarme fora acionado, talvez debaixo da mesa.
— Levem-na daqui!— A voz dele era grave.
Eu fui levada, me debatendo, olhando para aquele ser à minha frente, com certeza, o mandante do meu sequestro.
Fui colocada num outro quarto, esse era bem maior e luxuoso.
Esse quarto também tinha uma sacada, então corri para espiar de lá, agachada, rastejei como se fosse uma criminosa, observando o movimento lá embaixo.
Eu vi o tal homem, falando com os seguranças. Ele gesticulava o tempo todo. Será que estava dando ordens para me matar? Um longo suspiro de agonia saiu de dentro de mim. O que eu teria feito de tão grave para despertar tanta ira? Eu matutava o tempo todo. E se fosse alguma coisa com o meu noivo, Daniel?
Voltei para o quarto, desanimada, sem saber o que fazer para me livrar daquela situação. Como estariam os convidados na igreja? Eu não tinha mais a minha mãe para chamar por ela. A dor de perdê-la para uma doença impiedosa, há dois anos, parecia tomar conta de mim naquele momento. Eu ainda tinha a Nicole, minha melhor amiga! Ao menos ela estaria desesperada com o meu sumiço, além do meu noivo, claro!
O cansaço me venceu e eu acabei adormecendo naquele leito macio.
Acordei, sentindo frio, já era madrugada. Ele estava na sacada de costas, olhando para a escuridão do mar.
Foi aí que olhei para um vaso de porcelana, devia ser caríssimo, disposto no aparador. Pensei em levantar e surpreendê-lo.
— Nem pense nisso!— ele falou, sem se virar, no momento em que eu colocava as mãos no vaso.