O homem moreno e magro, de meia idade, tentou sorrir para tornar aquele assunto menos doloroso.
— O senhor não se parece nada com aquele menino que ela conheceu na infância. Era desajeitado, comia tudo o que via pela frente, e não gostava de pentear os cabelos!
Ruan suspirou com tristeza.
— Eu a beijei e ela cuspiu na minha cara! Disse que me odiava e que eu era nojento!
José meneou a cabeça repetidas vezes, sorrindo.
— Ela era só uma menina! Contou para a mãe e saíram às pressas, na calada da noite!
Ruan ficou pensativo, olhando pela janela, enquanto o carro se afastava rumo a sua casa, longe dali.
— Tem certeza que quer voltar para casa de Minas Gerais, senhor? Não seria melhor ficar aqui no Rio mesmo? O senhor tem negócios aqui e…
Depois de respirar fundo guardando sua dor, Ruan respondeu:
— Eu já fiz o que precisava por aqui, José, me leve para casa, tenho muito trabalho a fazer.
O carro pegou a estrada e levou para longe o homem que roubou os meus sonhos, mas deixou a sua sementinha dentro de mim, eu demoraria um pouco até descobrir.
Nicole, minha única amiga, que também trabalhava na mesma loja de roupas finas masculinas que eu, ligou desesperada.
— Eu te ligue muitas vezes, Bia! Meu Deus, você desistiu do seu casamento?
— Eu deixei o celular em casa, amiga — respondi com a voz embargada.
— Bia, o que deu em você? Nem para mim contou que estava apaixonada por outro?
— O quê?
— O motorista da limusine, ele contou que você saiu com outro homem e que pareciam apaixonados!
— Não Nicoli, não! Aquele infeliz, deve ter sido comprado! Foi tudo um plano sórdido!
— Do que você está falando, amiga?— Nicole estava aflita.
Fiquei em silêncio por um tempo, eu não podia mentir para Nicole.
— Me conta, quem é ele?— ela insistiu.
— Não sei.
— O quê?
Houve um silêncio. O choro me venceu.
— Eu vou até ai, Bia, calma!
Fiquei esperando Nicole e quando a campainha tocou, corri para atender, mas era Daniel.
Ele ficou parado na porta, me olhando com tristeza.
— É verdade o que o motorista da limousine falou?
Fiquei paralisada, não consegui negar.
— Você tem outro? Quem é ele, Bia?— Daniel, inconformado, tentava entender.
A minha boca estava seca, se ao menos eu tivesse resistido ao meu sequestrador!
— Quando você o conheceu, Bia? Em que momento isso aconteceu, que eu não percebi?
Fiquei segurando a porta, enquanto Daniel entrava falando alterado.
— Daniel, eu preciso ficar sozinha— eu disse isso sem sair do lugar.
Ele voltou me olhando com ódio.
— Eu não mereço uma explicação? Estive do seu lado sempre!
Eu comecei a chorar e Daniel me abraçou.
— O que aconteceu? Conta pra mim, Bia? Eu sinto que precisa de ajuda!
Daniel era perfeito, mas eu não merecia o seu amor. Eu traí os nossos sonhos e tinha que arcar com as consequências sozinha!
Meu noivo loirinho, de cabelos cacheados, sempre bem vestido, um bancário tranquilo que procurou sempre manter a minha vida nos eixos, agora se via impotente.
— O que eu fiz para te perder, Bia?
Eu não sabia responder nenhuma das perguntas, por mais que eu tentasse. Eu só sabia que me deixei levar por um estranho sedutor que mudou o rumo da minha vida, apesar de que naquele momento, eu ainda não sabia o quanto!
— Daniel, não se preocupe, eu vou arcar com as despesas da festa, você não tem que pagar pelo meu erro!
— Ele já pagou tudo!
Fiquei estática. Ele pagou tudo? Meu Deus, ele quem? Eu tinha que fingir conhecê-lo, ao menos isso!
— Menos mal— foi o que eu disse.
— E a minha dor, quanto vale? Ele vai pagar também?— Daniel estava arrasado.
Baixei a cabeça e abri a porta para que ele fosse embora.
— Não tem mais nada a me dizer?— ele parou na minha frente, me cobrando uma coisa que eu não tinha para lhe dar.
— Espero que me perdoe, Daniel.
Alguns dias se passaram e fui demitida do emprego sem nenhum motivo aparente. Minha amiga ouviu uma fofoca na loja. Falaram que um cliente havia reclamado do meu atendimento.
Achei estranho, mas não me deixei abater, tentei uma vaga em outra loja no mesmo shopping, mas não fui chamada, e o pior é que fui bem na entrevista!
— Tudo está dando errado na minha vida, Nicole! Eu não consigo emprego nenhum, estou a quase um mês tentando!
Nicole me ouvia atenta.
— Amiga, depois da história que me contou daquele misterioso que te sequestrou, parece mesmo que tem algo de errado!
Ruan estava concentrado no trabalho, analisando o progresso dos negócios na tela do computador, quando José, seu motorista, entrou acompanhado por um outro homem, que o deixou curioso.
— Detetive Jarbas! Sente-se, por favor! Tem novidades? Conte-me tudo, o que ela está fazendo agora, que não consegue mais emprego em loja de roupas?
O homem parecia afobado, Ruan tinha uma presença marcante e provocava esse tipo de comportamento diante da sua autoridade.
— Ela está à procura de trabalho na área administrativa, senhor, mas não tem experiência!
José concordou.
— Verdade, ninguém lhe dará emprego!
— Eu lhe darei!
Ruan levantou-se da cadeira, deixando-a num canto da parede.
Os dois homens o olharam curiosos, perplexos.