POV JOSÉ EDUARDO
A caminhonete preta de Gaspar avançava pela estrada como uma bala cuspida do cano de uma arma. O motor roncava fundo, cada mudança de marcha soava como um aviso: não havia retorno. Eu olhava para a tela do celular, o mapa iluminando meu rosto no breu da noite. “Faculdade de tecnologia, laboratório 204.” Repeti esse endereço mentalmente umas vinte vezes, como se decorar pudesse me dar vantagem contra o inimigo. Não era só um lugar. Era o primeiro fio solto do novelo que eu precisava puxar até desfazer a trama que me arrancara Catarina e meu pai. O asfalto passava rápido sob as rodas, e a escuridão das plantações nas laterais parecia se mover junto, como se o mundo inteiro estivesse sendo engolido para dentro daquele carro. Meus dedos roçavam o coldre da arma preso à cintura, o metal frio trazendo uma estranha sensação de conforto. Cada segundo sem respostas era como uma faca girando dentro do meu peito. —