O som do ar-condicionado da recepção era quase imperceptível. A decoração da clínica Avelar, moderna e acolhedora, exalava tranquilidade. Quadros de paisagens suaves nas paredes, vasos com orquídeas brancas, luzes amareladas e música instrumental suave. Mas nada disso apaziguava a tempestade dentro de Marcus Castelão.
Sentado, vestindo camisa preta e calça de alfaiataria escura, com o maxilar travado e as mãos fechadas em punhos sobre os joelhos, ele aguardava ser chamado.
— Senhor Castelão? — disse a recepcionista com um leve sorriso. — Doutor Daniel já pode recebê-lo.
Marcus levantou-se devagar, como se carregasse chumbo nos ombros. Caminhou pelo corredor até o consultório onde a porta de madeira clara já estava entreaberta.
Lá dentro, Daniel Avelar organizava prontuários sobre a mesa. Vestia jaleco branco sobre uma camisa social azul clara. Quando viu Marcus, ergueu o olhar com surpresa controlada.
— Marcus... — disse ele, fechando a pasta com calma. — Achei que fosse um paciente.