Do Luxo ao Morro
Do Luxo ao Morro
Por: S.R.Silva
Capítulo 01

Acordei pleníssima em um quarto deslumbrante, como se alguém tivesse materializado os sonhos mais luxuosos. Sou parte de uma família abastada; meus pais, que estejam nos céus, deixaram-me uma fortuna incalculável. Essa riqueza é administrada pelo meu querido tio Arthur, que sacrificou sua vida para cuidar da minha criação.

— Steph, meu amor, seu café está pronto. Vai querer comer no quarto ou na mesa? — Minha eterna babá, Carolzita, uma figura adorável que me conhece desde sempre, age como minha mãe.

— Carolzita, vou me arrumar e fazer minha refeição na cozinha mesmo.

— Tudo bem, minha princesa. Estou te aguardando lá embaixo. Se precisar de mim, é só gritar.

— Pode deixar, meu amor.

Como mencionei, Carol e eu temos um vínculo que se assemelha ao de mãe e filha, o que causa um certo incômodo na filha dela, que mora na favela e sente ciúmes do nosso relacionamento.

Dou uma espreguiçada e me dirijo ao meu closet, que é mais como um outro quarto. Aqui, encontro de tudo, desde roupas até calçados e acessórios de diversas marcas. Nunca experimentei um dia sem dinheiro, e espero nunca fazê-lo, afinal, minha fortuna é incalculável. Com o traje escolhido, tomo um banho de banheira com sais aromáticos, mergulhando em puro deleite.

Completamente vestida, desço para o café. Carol me olha e solta um assobio.

— Nossa, aonde vai assim, tão deslumbrante? E por que toda essa produção grandiosa?

— Estou tão básica, nem estou usando meus diamantes. Ela me encara e revira os olhos.

— Você chama isso de básico? Deveria ver as garotas da favela onde moro, aqui é luxo.

— Carolzita, jamais colocaria os pés em uma favela ordinária. Afinal, os moradores de lá são todos rudes, sempre tramando esquemas para tirar vantagem dos outros. Ela me encara com seriedade, e eu rapidamente me corrijo. Exceto você e o Jarbas, é claro.

— A vida não é tão fácil como seu tio a ensinou. Um dia perceberá que não se vive apenas com roupas de grife.

— Claro que não! Nós vivemos de Chanel, Dolce & Gabbana, Tiffany e por aí vai. Ela revira os olhos. Eu sei que sempre me ensinou isso, mas é a minha natureza. Acho que nunca vou mudar.

— Prefiro acreditar que um dia você vai amadurecer.

Dou de ombros, como sempre faço, e termino meu café. Me despeço de Carol e aguardo Jarbas.

— Bom dia, Steph. Ele sorri ao abrir a porta do carro.

— Bom dia, Jarbas. O dia está perfeito para algumas comprinhas básicas. Ele balança a cabeça e sorri.

— Menina, por mais dinheiro que tenha, é bom economizar. Nunca se sabe quando pode precisar.

— Ah, você e Carol, sempre com esse discurso de preocupação. Meus pais me deixaram tanto dinheiro que não preciso me inquietar com nada. Minha maior preocupação é estar impecável para dançar.

Cheguei a uma das lojas mais exclusivas da cidade e, logo na entrada, esbarrei em um moreno, quase me fazendo cair no chão. Por sorte, o rapaz me segurou a tempo. Nossos olhos se encontraram por um momento, e um sorriso escapou dos meus lábios. Depois de garantir que não me machuquei, o moreno seguiu seu caminho. Sacudi a cabeça para espantar a distração e entrei na loja que tanto amava. Com uma apresentação de ballet em apenas dois dias, eu precisava comprar algo novo para a festa que aconteceria ao final da performance. Comprei dois conjuntos perfeitos de diamantes banhados a ouro. Lembrei-me também do aniversário de casamento de Jarbas e Carol, que se aproximava, e decidi comprar um presente para ele. Vi um conjuntinho lindo e comprei para a filha de Carol, embora ela não me suporte.

Assim que saí da loja, fui em direção à companhia de dança que frequentava. Ali, o dinheiro era o que mais importava, pois as mensalidades eram verdadeiras fortunas. Nossas apresentações nos levavam a diversos países, e atualmente, Luana e eu compartilhávamos as apresentações solo. A senhora Liya tinha muita confiança em nós.

— Amiga, que bom que você chegou. Não aguentava mais a Jully e seu grupinho se gabando. — Luana me abraçou.

— O que elas estão exibindo agora? — Perguntei, curiosa.

— A July está se gabando que vai morar em seu próprio apartamento. Não suporto essa garota. Ela é tão fútil quanto você tenta ser. — Luana olhou nos meus olhos, sorrindo de canto.

— Não me olhe assim, mocinha. Você sabe que tenta ser fútil, mas, no fundo, é uma pessoa legal e generosa.

— Fico feliz que pense assim. Afinal, você é a única que pensa assim. O resto já se acostumou a me chamar de fútil.

A senhora Liya chegou e nos mandou aquecer para o ensaio. Após uma longa sessão de ensaio, fui para casa completamente exausta. Ao chegar, Carol me convidou para um lanche rápido, e eu aceitei. Aproveitei o momento para entregar a Jarbas o presente que tinha comprado.

— Não podemos aceitar isso, Steph. Deve ter custado uma fortuna. — Jarbas protestou, e Carol concordou.

— Claro que devem aceitar. Sabem como é raro fazer 20 anos de casados, ainda mais nos dias de hoje. Por favor, aceitem. Vocês fazem tanto por mim, e eu só quero retribuir. Ah! Lembrei que o aniversário da Manu está próximo, então, aqui está uma lembrancinha para ela. Eu sei que ela não gosta de mim, mas vocês são como uns pais para mim, o que a torna uma espécie de irmã. — Disse a Carol, que me abraçou apertado.

— Obrigada por isso, minha filha.

Fui para o meu quarto, tomei um banho e liguei para João Miguel, que atendeu prontamente. O convidei para jantar, mas ele explicou que estava fazendo as malas para uma viagem de negócios com o pai.

— Não fique triste, minha bebezinha. Volto em dois dias e serei todo seu.

Despedi-me e desliguei o celular. Nossa relação era complexa. Às vezes, eu considerava terminar, mas tinha receio de perder pessoas importantes na minha vida. De certa forma, ele me ajudou quando precisei.

Meus pais faleceram há dez anos. A perda foi devastadora, e por um tempo, nem dançar eu conseguia. Na época, a polícia cogitou a possibilidade de assassinato, mas logo descartaram, alegando uma falha no acelerador. A explicação nunca me convenceu completamente, já que meus pais eram extremamente cuidadosos. O resto da minha criação ficou sob os cuidados do meu tio, que, na verdade, possui minha custódia. No entanto, ele nunca esteve presente de verdade, sempre viajando ou trabalhando.

Meu celular apitou, mostrando uma mensagem do meu tio informando que estava voltando. Ignorei a mensagem e coloquei meu celular para carregar antes de ir dormir.

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