As semanas seguintes foram uma loucura. Oliver viajava de um país para o outro, enquanto eu me afundava no restaurante, nossos contatos se limitavam as mensagens rápidas trocadas entre pedidos e corridas.
Oliver: Cheguei em Mônaco, o caos habitual.
Amélia: Cheguei no restaurante, farinha na cara e manchei minha dólmã preferida, nada fora de novo no horizonte. – Suspirei bebendo água da garrafinha vermelha que tinha feito questão de enfiar na minha mochila.
Oliver: Acho que prefiro o seu caos.
Amélia: Duvido muito. Aqui não tem carros a 300 km, mas tem clientes que acham que podem mudar o pedido cinco vezes depois que o prato já está pronto, talvez eu esteja com tique no olho direito, só talvez.
Oliver: Isso parece mais perigoso do que minha corrida.
Amélia: E é, mas ainda não acertei ninguém com uma faca de queijos.
Oliver: Isso sim é uma vitória
Prometo trazer uma lembrancinha de presente para acalmar sua fúria.
Amélia: Conhece meu ponto fraco, amo ganhar presentes, mal posso esperar.
Mesmo à distância, ele conseguia me fazer sorrir. Era estranho como essa conexão entre nós crescia, mesmo com continentes nos separando, me acostumei a receber mensagens dele nos horários mais aleatórios, às vezes antes de uma corrida, às vezes depois, quando ele ainda estava cheio de adrenalina.
Oliver: P6 na largada amanhã, poderia ter sido melhor.
Amélia: Acompanhei tudo daqui, o clima dificultou e a julgar pelos gritos de felicidade dos senhores que estavam aqui, estão contentes com você.
Oliver: Então agora você acompanha as corridas?. – revirei os olhos, convencido.
Amélia: Sim, torcendo pela Red Bull, otário.
Oliver: Mentirosa, sei que é ferrarista– eu podia ver o sorriso que ele tinha no rosto só se ler as palavras
Amélia: Convencido
O restaurante continuava sendo meu universo, enquanto o mundo dele se expandia para além de qualquer coisa que eu pudesse imaginar, corrida pós corrida país a após país, mas de alguma forma nossas vidas continuavam se cruzando, entre Australia, China, Japão e os outros diversos países ao qual ele passava semana pós semana.
Era 23:00 de uma noite de open, para minha sorte era, meu dia de “folga”, estava com drink em uma mão e uma garrafa de tequila na outra, distribuindo doses entre as pessoas, eu estava cansada? Sim, mas ficar em casa em silêncio vinha se tornando mais difícil nesses últimos 4 meses, estava virando uma dose generosa de tequila no meu próprio copo quando ouvi a comoção, levantei o olhar, lá estava ele de jaqueta preta, calça branca, ele estava lindo. Ao me ver um sorriso deslumbrante iluminou seu rosto caminhando em direção do bar onde eu estava escorada, cumprimentando algumas das pessoas que o reconheceram.
— Você não me avisou que vinha! — me joguei em seus braços que me envolveram em um abraço forte, estava surpresa e feliz ao mesmo tempo.
— Queria ver sua reação — ele sorriu. — Além disso, senti falta da comida daqui, meu paladar não aguenta mais hotel.
Ele depositou um beijo carinhoso em minha testa.
De canto de olho pude ver, Joana sussurrando para Simon algo sobre ter um famoso no restaurante, e eu só balancei a cabeça, rindo.
Eu o puxei para cozinha onde a música estava mais baixa e o ambiente mais iluminado.
— Você parece exausto — comentei, observando-o esfregar os olhos.
— Foram semanas intensas, só queria um lugar tranquilo.
— Definitivamente hoje não é o dia certo — sorri, compadecida.
Era um contraste meio estranho, a velocidade do mundo dele e a constância do meu.
- Vamos pra casa? – perguntei, colocando uma mecha do cabelo dele no lugar.
- Música para meus ouvidos – ele pegou minha mochila.
Saímos pela porta dos fundos deixando a barulheira para trás, tinha estampado no rosto um sorriso que não era capaz de conter
- O que está aprontando? – ele também estava sorrindo
- Você ficou um bom tempo fora, reformas progrediram... – usei o tom mais inocente que consegui, piscando os olhos igual uma garotinha.
- Estou realmente preo... – As palavras morreram em sua boca ao avistar a casa.
- Oliver? – o chamei só parar garantir que ele estava respirando ainda.
- Como você conseguiu fazer isso tudo em tão pouco tempo? – Ele parou apoiando as mãos na cintura.
Eu tinha lixado e pintado toda a fachada e parapeitos dos dois andares de um lindo tom de azul celeste, as janelas tinham sido trocadas e as jardineiras aos pés delas pintadas de branco e também plantei rosas, sempre adorei apesar de não ser muito boa cultivando, por fora não podia fazer muitas mudanças por conta do padrão a ser seguido.
Puxei meu amigo pela mão até a soleira, ele estava observando tudo o que havia mudado desde a última vez que ele estivera ali, tinha pintado as cercas e arrumado o jardim também.
- Faça as honras – estendi a chave pra ele – Ah, não precisa forçar mais.
Dei risada ao ver ele abrindo a porta de olhos fechados e então ao abrir o puro espanto tomou suas feições, caminhei pra dentro o seguindo e fechando a porta. Eu tinha feito uma revolução, as paredes que antes tinham partes expostas agora estavam completamente com tijolos a vista, sofá, Tv, mesa de centro compunham a sala que eu havia organizado aonde uma vez era o quarto de Oliver, a escada tinha sido pintada e o corrimão restaurado. Levou alguns minutos pra que ele voltasse a falar:
- Como você conseguiu fazer tudo isso em tão pouco tempo? – ele estava admirado me encarando.
Senti meu rosto esquentar.
- Eu não tenho dormido muito... – falei essa parte em um tom mais baixo, mas pelo seu olhar sabia que ele havia escutado – Vem! Deixa-me mostrar os quartos.
Peguei sua mão e o puxei escadaria acima
- Esse aqui você como já sabe é o meu – empurrei a porta, eu já tinha o restaurado junto com a cozinha. – E advinha só – parei na frente a porta pintada recentemente de uma cor que lembrava nuvens chuvosas.
- Não pode ser o que estou pensando... – sai da frente deixando-o abrir a porta.
- É exatamente isso! – eu estava feliz como criança em dia de natal – Não vai mais precisar dormir no colchonete. – Falei ficando na ponta dos pés pra apoiar meu queixo em seu ombro.
Eu tinha quebrado Oliver, ele estava sorrindo, mas não falava nada.
- Se não gostou. tudo bem – passei a frente dele – Posso pegar o colchonete no armário.
Num instante eu estava em pé e no outro estava com as costas contra o colchão.
- Eu amei Amy! – ele estava com um braço apoiado de cada lado da minha cabeça, com um sorriso magnifico que me causou uma sensação que estava tentando matar a algum tempo – Ficou incrível.