Hermosa

   

Era sábado de manhã eu estava sentada na sacada de casa aproveitando o ar fresco da primavera, tomando um chazinho quente, a noite de ontem tinha sido movimentada meus nervos ainda estavam rígidos.

De onde ficava minha casa ainda conseguia ver o mar, escutar o barulho das ondas na maré alta se chocando contra as pedras. Foi o barulho de meu celular  que me chamou atenção.

“Buenos dias, está afim de um passeio hoje?”

Era Oliver

Amelia: Isso me cheira a sequestro, para onde iriamos? – digitei a resposta rápido.

Oliver: E se fosse você aceitou o destino muito rápido, vou te levar pra conhecer meu trabalho

 A resposta surgiu depois de um instante, me tirando uma risada, bebi o restante do meu chá e digitei a reposta.

Amelia: Chega em quanto tempo? Vou me arrumar.

Escutei uma buzinada, me levantei olhando para rua

- Já estou aqui! – ele estava encostado no carro usando óculos escuros e um moletom vermelho.

- Se quiser entrar tem chá quente na cozinha! – Gritei pra ele e fui para meu quarto.

Olhei para meu guarda roupa, que era basicamente duas araras, sendo uma delas com mais da metade de dólmãs, peguei algo prático uma calça jeans e uma blusa branca que tinha o baby Yoda estampado com os dizeres “ que a força está ao seu lado”, eu era fã de Star Wars? Nunca tinha nem assistido, mas amava o baby Yoda era o que importava, passei na frente do espelho vestindo um tênis confortável, passei um hidrante labial, mandei um beijinho pra mim mesma no espelho e desci quando cheguei na cozinha estava acabando de prender meu cabelo em um rabo de cavalo, Oliver estava com um xicara na mão e um cookie na outra.

- Bom dia de novo – falei passando por ele pra beber água.

- Animada? – ele estava com aquele meio sorriso que descobri que era de quando estava aprontando algo.

- Curiosa – bebi minha água observando o moletom que ele usava e quase cuspi nele quando constatei o fato – Caralho Oliver! – a julgar pela cara dele o palavrão tinha saído em português – Você trabalha pra Ferrari?!

- E eu achando que você não conhecia nada de fórmula 1 – seu tom irônico me fez querer dar um socão nele – Mas sim, eu trabalho pra Ferrari.

- Agora faz sentindo os homens que te paravam pra tirar foto parecendo esquilos com excesso de café.

Nas últimas semanas, vez ou outra homens com mais de trinta anos, ficavam parecendo menininhas pra tirar foto com Oliver, apesar de engraçado não tinha feito sentido até agora.

- Esquilos com excesso de café – ele estava rindo enquanto lavava a xícara que tinha usado – Confesso que é uma boa definição.

- Eu ainda estou curiosa – franzi os olhos pra ele  -  O que você está escondendo?

- Euuuuu? – ele levou a mão ao peito como se tivesse o ofendido – Nada, vamos logo se não chegaremos muito tarde.

- Ta bom...  - respondi desconfiada.

O Caminho até nosso destino que na metade do trajeto descobri ser Módena, foi de umas três horas, que passaram comigo tentando extrair informações do meu parceiro de viagem.

- Estamos chegando – ele disse olhando pra mim e rindo – Tenho certeza que irá gostar.

As ofensas morreram nos meus lábios antes de começarem quando a fachada vermelha com o escudo da Ferrari surgiu a nossa frente escrito “Pista de Fiorano”

- Você só pode estar de brincadeira comigo – Encarei ele sorrindo.

- Eu disse que você iria gostar – me empurrou de levinho com o ombro.

Paramos no portão onde ele colocou a credencial pra destrancar e continuamos até o estacionamento, onde paramos e descemos.

- Acho que essa é uma boa hora pra te contar algo – ele tirou os óculos pra me encarar.

- Você não é um mecânico, né Oliver.

- Em minha defesa eu nunca disse que era – ele agarrou minha mão para que eu o acompanhasse.

Eu belisquei a costela dele, quando estávamos nos aproximando de um grupo de homens usando uniforme vermelho.

- Bom dia pessoal – ele disse educado.

Os presentes ali o cumprimentaram com apertos de mão e perguntas de como tinha sido as férias, eu tal qual um pinguim de Madagascar estava no sorria e acene.

- Cabrom, quem é a essa bela moça ? – um rapaz, esse parecia ser mais intimido dele do que os outros e tinham belíssimos olhos azuis.

- Amélia – estendi a mão pra ele – Amiga de Oliver.

- Amiga do Oliver... – seu olhar passou de Oliver para mim, tentando descobrir se o status amiga não era um disfarce. – Prazer, eu sou Christoffer.

- Prazer em conhece-lo – olho para aqueles dois homens bonitões a minha frente e não resisti – Christoffer, pode me tirar uma dúvida?

Ele acena concordando.

- Vocês dois são pilotos, né  - ele me encara como se tivesse nascido um terceiro olho em minha testa – Eu sei que é uma pergunta burra, mas esse homem ao seu lado até a uns 30 minutos atrás disse que era mecânico.

Patrick olhou para Oliver e começou a gargalhar.

- Eu nunca disse isso – Oliver também estava rindo.

- Você concordou quando perguntei.

- Eu respondi quase isso.

- Quase isso é totalmente diferente de ser um piloto da escudaria mais famosa da Itália, se não do mundo, porra Oliver! – eu  também estava rindo incrédula de não reconhecer um piloto oficial da Ferrari.

Christoffer tinha conseguido parar de rir.

- De todas as coisas que pensei e iriam acontecer hoje essa com toda certeza não estava na lista, você não é daqui certo, Amelia?

- Sou brasileira e em minha defesa, fórmula 1 meio que não do meu dia a dia.

- Você está aqui a quase dois anos Amy.

- Eu sei! Eu sei! E sabe o que é o pior? Naquela noite senti que te conhecia de algum lugar.

Nós dois voltamos a rir.

- A quanto tempo vocês se conhecem? – o amigo dele voltou a perguntar

- Um pouco mais de um mês – Oliver continuou – Se lembra do evento em Gênova?

Podia escutar as pecinhas de juntando na cabeça dele.

Fomos interrompidos por um senhor, baixinho com sotaque extremamente forte que acredito ser francês, ele me cumprimentou com educação sorrindo, em seguida pediu para que eles fossem se arrumar, para o teste dos novos carros, Patrick me apresentou sua namorada Olivia uma italiana absurdamente linda com cabelos escuros e pele bronzeada, ficamos sentadas dentro dos paddocks assistindo a equipe trabalhar perfeitamente alinhada, me lembrando praças de um restaurante clássico. Quando os dois voltaram já estavam vestindo os uniformes.

- Vermelho realmente combina com você – brinquei com Oliver.

- É o que dizem – ele sorriu tirando o boné que estava usando e me entregando – Se eu fosse vocês protegeriam os ouvidos – Ele saiu indo em direção ao carro qual os mecânicos estavam dando os ajustes finais.

Revirei os olhos para ele, colocando o protetor de ouvidos que tinham nos entregado a alguns minutos.

- A quanto tempo vocês estão juntos? –  A morena perguntou

- Ah não, não estamos juntos, só amigos mesmo.

Ele sorriu como se não acreditasse muito.

- Oliver nunca trouxe amigas, além da família dele em treinos assim.

- Eu o chantageei – a moça me olhou preocupada – Estou brincando, nas últimas semanas ele ficou bastante tempo no restaurante comigo, então concordamos em fazer o “leve seu amigo para o trabalho” e aqui estou.

Ela sorriu de forma elegante, eu nem sabia que isso era possível. Se ela tinha algo pra dizer depois disso ficou pra ela, já que o som ensurdecedor dos carros encheram o local, fazendo vibrar até meu coração, eu nunca imaginei que poderia viver algo assim e eu estava realmente empolgada, assim que os dois foram pra pista, um dos rapazes nos convidou pra subir e assistir, Olivia negou educadamente, eu aceitei toda feliz, era um terraço coberto que dava visão parar todo o circuito, foi simplesmente emocionante poder acompanhar tudo de pertinho, era um pouco mais de quatro a tarde quando deram por finalizado os treinos daquele dia, aguardei por mais alguns minutos até os liberassem. Já estávamos de volta no carro a caminho de Gênova

- E então gostou do passeio? – ele tinha aquele sorriso bonito e calmo.

- Se eu gostei?! Oliver eu AMEI!!, acho que meu coração está vibrando até agora, foi incrível, obrigado pela experiência.

- Será bem-vinda sempre que quiser, só me falar.

- Eu vou com certeza!

O dia tinha sido maravilhoso, conhecer mais uma fração da vida de Oliver era sem dúvidas a melhor parte, quem o via assim, achava ser um homem super sério e graças ao vinho bordo que tinha bebido demais naquela noite em que nos conhecemos, tive a oportunidade de conhecer o homem brincalhão, atencioso e educado que chamo de amigo e isso não tinha preço.

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- Amy, chegamos – balançou meu ombro com cuidado.

Eu tinha caído no sono sem perceber.

- Que horas são? – falei bocejando.

- Quase 8.

- O que vai querer jantar? – cocei meus olhos – Podemos pedir algo do restaurante .

- Vamos jantar aqui hoje, eeee – ele levantou o dedo e tocou meu nariz – Eu cozinho.

Eu ri incrédula

- Desde quando você cozinha? – ele não respondeu só desceu do carro – Oliver? O que mais você está escondendo? – Eu o desci e segui até a porta, ele pegou a chave da minha mão e destrancou a porta com a facilidade de quem já tinha feito isso antes a colocando no esconderijo atrás a porta sob meus casacos

— Você já decorou onde eu guardo as coisas? — perguntei, arqueando uma sobrancelha enquanto entrávamos.

— O que posso dizer? Sou observador. — Ele deu de ombros, caminhando direto para a cozinha como se fosse a casa dele.

Eu soltei um suspiro e o segui, encostando-me no balcão enquanto o observava abrir armários e a geladeira.

— Ainda não acredito que você cozinha. — Cruzei os braços. — Tem certeza de que não quer pedir algo, George traria rapidinho pra gente

Ele lançou um olhar divertido por cima do ombro.

— Falta de fé em mim, Amelia. Isso machuca.

— Só estou surpresa. Você já me enganou dizendo que era mecânico, então… — dei de ombros, fingindo desconfiança.

— Eu nunca disse que era mecânico. Você que deduziu.

— Detalhes. — Sorri.

Oliver riu e pegou alguns ingredientes, jogando-os no balcão.

— Vai ser algo simples, Spaghetti alla carbonara.

— Justo. Melhor do que qualquer coisa que eu faria agora.

— Você realmente se recusa a cozinhar em casa, né?

— Eu cozinho… no restaurante. Aqui sobrevivo de chá, torradas e as sobras do serviço.

Ele balançou a cabeça, rindo baixo, e pegou uma panela.

— Então sente-se e aprenda com um mestre.

— Certo, chef Oliver — brinquei, puxando uma cadeira da mesa.

Enquanto ele cozinhava, fiquei observando. O espanhol se movia com segurança, misturando os ingredientes como se fosse algo que fazia com frequência.

— Você parece profissional.

— Vivi sozinho por muito tempo, tive que aprender.

— Hmm… interessante. Talvez eu devesse colocar você na minha cozinha como chef convidado.

— Acho que sou mais útil onde estou.

— Você nunca me contou como começou sua paixão pelo automobilismo.

Ele parou por um instante, depois deu de ombros.

— Meu pai me levava para ver corridas quando eu era criança, comecei a pilotar kart cedo e nunca mais parei.

— E agora está aqui, cozinhando para mim, na minha cozinha, um piloto da Scuderia Ferrari. Quem diria?

Ele riu.

— A vida é cheia de surpresas.

Ficamos em silêncio por um tempo, apenas o som da comida sendo preparada preenchendo o ambiente. De repente, o cheiro delicioso tomou conta da cozinha.

— Está pronto — ele anunciou, servindo os pratos.

Eu me inclinei para frente e respirei fundo.

— Ok… admito que parece ótimo.

Dei a primeira garfada, sim que o sabor atingiu meu paladar, fechei os olhos.

— Caramba, Oliver… isso está maravilhoso.

— Falei que sabia cozinhar. – Ganhei uma piscadinha convencida.

— Você tem mais talentos escondidos que eu imaginava.

Ele sorriu, pegando um pouco da comida

Terminamos o jantar conversando sobre pequenas coisas, nossos dias, nossos planos, histórias engraçadas. Quando a última garfada foi comida, eu me espreguicei, sentindo o cansaço do dia pesar.

— Ok, essa foi a melhor ideia que você já teve.

Levantei-me e comecei a pegar os pratos para lavar, mas Oliver segurou meu pulso suavemente.

— Você cozinha, eu lavo regra básica da cozinha—  falei encarando-o.

Ele apenas pegou os pratos da minha mão.

— Eu cuido disso. Você vai descansar, algo me diz que amanhã tirarão seu couro por fugir hoje.

Eu abri a boca para protestar, mas a expressão firme dele me fez suspirar.

— Tudo bem… - falei bocejando -  Mas só porque existe a possibilidade de você estar certo.

Ele apenas riu.

Antes de sair da cozinha, parei na porta e olhei para trás, observando ele lavando a louça como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Por algum motivo, a cena me fez sorrir.

— Obrigada pelo jantar, Oliver.

Ele olhou para mim por cima do ombro, um brilho divertido nos olhos.

— Ao seu dispor Hermosa.

- Ah antes que me esqueça, deixei sua cama arrumada hoje cedo, caso queira ficar.

- Eu agradeço, vou sair cedo amanhã.

Bocejei de novo

- Boa noite Oliver.

- Boa noite Amy.

Subi as escadas preguiçosamente, tomei um banho e me joguei em minha cama, com um sorriso bobo estampado.

Ao acordar na manhã seguinte ele já havia partido e tinha deixado um bilhete sobre o balcão da cozinha:

“ Espero que tenha um bom dia, essa semana vai ser uma loucura então não sei quando volto, fique bem Amy, não trabalhe demais e se precisar só chamar.” – com carinho Chef Oliver”

O final da carta me tirou uma risada silenciosa.

Oliver não voltou até Gênova nos dias seguintes, apesar de todos os dias enviar mensagens perguntando como estavam as coisas por aqui. No restaurante o caos estava instaurado e apesar de estarmos quase no final da temporada, vivíamos lotados, confesso que as Tvs do salão passaram a ficar mais tempo nos canais que falavam sobre fórmula 1 e eu vez ou outra parava pra ouvir algo sobre meu amigo e seus adversários de pista.

- Eu ainda fico surpreso de você não ter notado de primeira – Simon um dos cozinheiros italianos falou ao meu lado.

- Você é o italiano e não percebeu quem dirá eu. – falei incrédula.

- Só porque não o vi, do contrário eu estaria como os senhores de meia idade que você falou.

Dei uma risada sincera

- Isso sim seria engraçado.

- Pedido mesa 8! – Gritou joana do salão.

- De volta ao trabalho. – Simon olhou pra mim e riu.

O restaurante estava um caos naquela noite. Conseguia sentir o cansaço pesar em cada músculo do  meu corpo enquanto coordenava a equipe, lidava com pedidos e tentava manter o sorriso no rosto para os clientes, parecia que a cidade inteira tinha decidido jantar ali.

Quando enfim a cozinha fechou, me sentei em um dos bancos do bar, massageando as têmporas. sentia o cheiro de fumaça e azeite impregnado na roupa e minha cabeça latejava.

— Parece que foi atropelada por um caminhão — a voz grave de Oliver soou ao seu lado. Ele estava recostado no balcão, observando-a com aquele meio sorriso característico.

Meu coração deu um salto no peito de felicidade, mesmo com o cansaço tentando me derrubar.

— E se eu disser que me sinto pior que isso? — murmurei, fechando os olhos por um instante.

— Espera aqui. — Ele sumiu sem dar explicações, revirei os olhos, mas estava cansada demais para perguntar.

Minutos depois, senti algo quente encostando em minha mão, abri os olhos e vi Oliver segurando uma xícara fumegante.

— Chá de camomila com mel, dizem que acalma os nervos.

Ergui uma sobrancelha, surpresa.

— Desde quando você entende de chás?

— Desde que comecei a conviver com uma brasileira teimosa que trabalha demais.

Ri fraco pegando a xícara, o primeiro gole pareceu relaxar meus músculos instantaneamente.

— Ok, ponto pra você — admiti – Mas como conseguiu convencer Simon? – ele sorriu convencido – Ah claro, deixa pra lá – Dei risada lembrando do comentário de meu Sous chef.

Oliver se sentou ao meu lado pegando um pãozinho esquecido no balcão, partindo um pedaço e colocando na boca casualmente, ficamos ali em silêncio por alguns minutos, até que ele franziu a testa, me encarando.

— O quê? — perguntei desconfiada.

Ele inclinou-se para frente e sem aviso, esticou a mão ajeitando a gola da minha dólmã que estava torta, o toque foi rápido, mas a proximidade fez prender a respiração por um segundo.

— Isso estava me incomodando — explicou ele, sem cerimônias.

— Ah… obrigada seu estranho.

Baixei meu olhar para a xícara, sentindo um calor estranho que não tinha nada a ver com o chá.

— Você precisa dormir, Amy — ele disse depois de um tempo.

— Eu sei. Mas hoje é meu dia de fechar tudo…

Oliver suspirou, levantou-se e pegou as chaves do balcão.

— Vem eu te ajudo.

— O quê? Não, de jeito nenhum! — me endireitei no banco.

— Amy, você mal consegue manter os olhos abertos. — Ele apontou , divertido. — Se insistir, eu te pego no colo e te levo pra casa à força.

— Você não faria isso.

— Quer pagar pra ver? – ele fez menção de me pegar.

— Tá bom, tá bom!. – disse rendida

Me levantei devagar, bebendo o último gole do chá antes de deixar a xícara no balcão.

—  Vamos terminar logo com isso.

Naquela mesma noite enquanto caminhávamos para casa, um sorriso involuntário surgiu em seus lábios, Oliver parecia sentir os dias que precisava de sua companhia e talvez, só talvez, eu ficava mais feliz que fosse capaz de admitir, ele estava caminhando ao meu lado com , as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta, a postura relaxada, mas o olhar atento ao redor, como se estivesse acostumado a medir o ambiente. Notei seu rosto sério e um sorriso surgiu em meu rosto..

— Por que esse sorriso? — Ele perguntou, me olhando de canto .

— Você tem cara de quem sempre está em modo de observação.

— Hábito. — Oliver deu de ombros. — Quando você viaja tanto quanto eu, aprende a prestar atenção ao que está ao seu redor.

— Hmm, isso me faz pensar… Já se meteu em alguma confusão? Tipo, fugir de fãs malucos ou algo assim?

Oliver soltou um riso baixo, balançando a cabeça.

— Algumas vezes. Já tive que pular um muro para escapar de um grupo de torcedores muito animados em Barcelona.

Comecei a gargalhar imaginar a cena dele fugindo de senhores de meia idade .

— Você fugindo?! Eu pagaria para ver isso.

— Eu não fugi,  fiz uma saída estratégica.

 Arqueei uma sobrancelha.

— Com toda certeza, nível fuja pra colinas – nós dois demos risada

O riso foi morrendo aos poucos, dando lugar a um silêncio confortável. Respirei fundo preenchendo meus pulmões com o ar fresco da noite e olhei para cima, O céu estava limpo, salpicado de estrelas, e a brisa carregava o cheiro leve de sal vindo do mar.

— Sinto falta disso — murmuro calma

— Do quê?

— De simplesmente andar sem pressa, no começo, quando me mudei para cá, costumava fazer isso sempre. Caminhar sem rumo, observando a cidade, mas aí veio o restaurante, as contas, as responsabilidades… acho que esqueci como era bom.

Oliver me observou em silêncio antes de continuar

— Você tem esse péssimo hábito de esquecer de cuidar de sí mesma.

Franzi o cenho, surpresa pelo tom sério dele.

— Eí! eu me cuido. – O empurrei de leve.

— Se trabalhar feito uma louca contar como “se cuidar”, então sim, você é ótima nisso.

Revirei os olhos, entretanto não protestei, ele não estava totalmente errado.

— Mas, sabe… — Oliver continuou, chutando uma pequena pedra no caminho. — Estou começando a achar que seu verdadeiro vício não é o trabalho.

Franzi o cenho olhando  para ele com curiosidade.

— Ah, não? E qual seria? – perguntei meu tom saiu mais agudo que deveria.

Ele sorriu de lado.

— Desafios.- seu tom era calmo como estivesse jogando dominó.

Pisquei, surpresa.

— Você deixou sua vida inteira para trás para restaurar uma casa caída aos pedaços em um país onde nem falava a língua direito, abriu um restaurante do zero, com uma equipe que, de alguma forma, transformou em sua família e agora está tentando reformar outra casa enquanto equilibra tudo isso. — Ele me segurou pelos ombros encarando com aqueles lindos olhos de cores indefinidas parecendo que podem enxergar a minha alma  — Você não para, porque sempre encontra algo novo para conquistar.

Abri  a boca duas vezes  para retrucar, mas… percebi que de certa forma ele tinha razão, jamais havia pensado dessa forma antes.

— Talvez — murmurei desviando os olhos daquele olhar desconcertante. .

— Talvez não. Você gosta disso, gosta da adrenalina de ter algo para resolver, um problema para superar.

Ele passou o braço por meu ombro me puxando pra próximo  enquanto continuávamos o caminho.

— Você fala como se isso fosse ruim. - falei depois de alguns segundos

— Não é ruim. — Oliver deu um meio sorriso. — Só perigoso.

— Perigoso como? – minha mente era um grande ponto de interrogação e decidir atribuir ao cansaço  

— Porque, às vezes, a gente se perde nos desafios e esquece de aproveitar o que já conquistou.

Algo se apertou dentro de meu peito, o jeito como ele disse aquilo… como se estivesse falando de algo que conhecia bem. Meu olhar se prendeu ao dele por um momento a mais do que deveria, o silêncio entre os dois ficou mais denso, mais carregado, Oliver foi o primeiro a desviar os olhos, passando a mão pelos cabelos, como se quisesse afastar um pensamento teimoso.

Ele pigarreou olhando para frente

— De qualquer forma… — eu ainda estava  processando as palavras dele. — Já decidiu quando vai tirar um dia de folga de verdade?

Uma risada sincera escapou de meus lábios, quebrando a tensão.

— Isso existe? – fiz minha melhor imitação de dúvida

— Existe, mas acho que você não acredita. – Ele me encarou puxando o capuz de meu moletom sobre minha cabeça

— Em minha defesa tirei um dia de folga o dia que te acompanhei até o autódromo

Atender ligações de fornecedores e mensagens dos funcionários não é folga.

Para de usar argumentos tão bons contra os meus fracos – suspirei derrotada – Acho que só não tive nada que realmente me desligasse nos últimos anos, minha vida foi uma loucura antes de vir pra cá e só continuou depois que cheguei.

Oliver me olhou de canto e sorriu.

— Desafio aceito.

Arqueei  uma sobrancelha

— Você acabou de dizer que eu sou viciada em desafios.

— Exatamente. Se eu transformar sua folga em um desafio, você vai aceitar.

Eu ri, balançando a cabeça

— Você é terrível. – Cutuquei a lateral de seu corpo o fazendo de encolher levemente

— E você é previsível, Hermosa.

Nós dois rimos, e o restante do caminho até em casa voltou a ficar 

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