(ALANA)
O relógio marcava três em ponto quando desci as escadas. O vestido cor de vinho que ele deixara para mim caía perfeitamente no meu corpo, como se tivesse sido feito sob medida. Simples, mas elegante. A sandália de tiras que encontrei junto combinava bem. Prendi o cabelo num coque baixo e ignorei qualquer tentativa da minha consciência de me fazer parecer... vaidosa. Aquilo não era um encontro. Era necessidade. E controle. Ozil me esperava junto à porta principal, com as mãos nos bolsos, como sempre. Ele usava uma camisa branca dobrada até os cotovelos, calça escura e botas pretas. Estava absurdamente bonito, o que só aumentava a raiva que eu sentia por ele. Era como se soubesse do efeito que causava. — Está pronta? — perguntou, abrindo a porta para mim. Assenti sem palavras. Não havia por que prolongar qualquer conversa. Saímos da mansão e logo entramos num carro preto de vidros escuros, com motorista. Claro. Ozil não dirigia. Ele apenas mandava. O percurso até a cidade foi silencioso. Eu olhava pela janela, tentando memorizar as ruas — não para fugir, mas para lembrar que ainda existia um mundo lá fora. Um mundo normal, onde as pessoas não eram sequestradas, forçadas a se casar e envolvidas em dramas com mulheres arrogantes e homens perigosamente sedutores. — Vai querer algo específico? — ele perguntou, quebrando o silêncio. — Roupas. As básicas. Calças, blusas, vestidos... íntimas. Coisas que uma mulher normal usaria. — Você não é uma mulher normal. — retrucou, com um meio sorriso. — Não tente me elogiar. — virei o rosto para ele. — Se me achasse especial, não teria me arrancado da minha vida à força. Ele não respondeu. Apenas me observou por mais alguns segundos, como se estivesse tentando entender o que havia dentro da minha cabeça — ou se valia a pena tentar. A loja para onde me levou ficava num ponto nobre da cidade. Fachada de vidro, vitrines com manequins vestindo grifes que eu só via em revistas. Não era o tipo de lugar onde eu compraria, mas não ousei reclamar. Já havia aprendido que discutir com Ozil era perder tempo. — Escolha o que quiser. — disse ele, ao me acompanhar até a entrada. As atendentes nos receberam com sorrisos treinados e um brilho nos olhos quando o viram. Claro. Todo mundo olhava para ele como se fosse algum tipo de lenda viva. E talvez fosse mesmo. Uma das mulheres me conduziu até o provador com uma pilha de roupas que ela mesma selecionou. Outras começaram a me mostrar peças delicadas, lingeries rendadas, sapatos de salto fino. — Não quero parecer... uma boneca. — murmurei, pegando uma calça jeans e uma blusa branca simples. —Você pode parecer o que quiser. — disse Ozil, surgindo ao meu lado sem que eu percebesse. — Não devia estar aqui. — olhei em volta. — É o provador feminino. — A loja é toda minha. — respondeu, como se isso justificasse tudo. — Ninguém vai falar nada. — Arrogância não é charme, Ozil. Ele sorriu. — Não. Mas sinceridade é. Ignorei o comentário e entrei no provador. Troquei de roupa o mais rápido possível, tentando afastar da mente o fato de que ele ainda estava ali, do lado de fora, provavelmente imaginando cada detalhe do que eu vestia. Quando saí, vestida com uma calça preta de cintura alta e uma camisa bege de linho, ele me olhou dos pés à cabeça e assentiu. — Agora sim. — murmurou. — Está... perfeita. Desviei o olhar, fingindo que aquilo não mexia comigo. — Já posso escolher outras sozinha? Ou vai ficar me vigiando o tempo todo? — Você está comigo. Onde eu for, você vai. — disse com naturalidade. — Pelo menos por enquanto. Compramos quase tudo: roupas casuais, algumas peças mais formais, lingeries, calçados e até um pijama de seda que ele mesmo escolheu. Me perguntei se aquilo era parte de um jogo mental. Me fazer confortável para depois me desestabilizar. Quando saímos da loja, o sol já começava a cair no horizonte, pintando o céu de tons laranja e lilás. A cidade tinha um ar nostálgico àquela hora. E pela primeira vez desde que fui levada, me senti... estranha. Parte de mim estava grata por estar fora daquelas paredes. Por respirar um ar novo. Por andar entre pessoas. — Está com fome? — ele perguntou, abrindo a porta do carro para mim. — Um pouco. — Ótimo. Conheço um lugar calmo. Dessa vez não reclamei. Parte de mim já sabia que não adiantava resistir a tudo. E parte de mim, para minha surpresa, já não queria resistir tanto. O restaurante era aconchegante, com poucas mesas e uma vista linda para o mar. Sentamos à beira de uma varanda e, por alguns minutos, com o som das ondas ao fundo, quase esqueci quem estava comigo. — Posso te fazer uma pergunta? — ele disse, após pedirmos o jantar. — Depende da pergunta. — Por que não tenta me conhecer, Alana? — Você me obrigou a ser sua esposa, Ozil. Que tipo de relação começa assim? — Relações são construídas. Algumas sob amor, outras sob necessidade. A nossa... ainda está se desenhando. — E Beatriz? Ela faz parte do desenho também? Ele me encarou, sério. — Beatriz é uma sombra do passado. Você é o presente. E talvez, se me permitir... o futuro. Senti um calafrio. Havia algo nos olhos dele que me dava medo e fascínio ao mesmo tempo. Era como caminhar na beira de um penhasco. Perigoso, imprevisível... e ao mesmo tempo, impossível de ignorar.O que acharam do capítulo? Deixem aqui nos comentários. Parece que Alana se sente atraída por Ozil. kkkk