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Capítulo Seis — Verdades e Silêncios

ALANA

Senti meu corpo enrijecer no mesmo instante em que nossos olhos se cruzaram. Ozil estava ali, parado à minha frente, com aquele olhar que não combinava com o homem que se dizia meu marido. Era terno, profundo... quase doce. Mas não me deixei enganar. Eu sabia quem ele era. Ou pelo menos, pensava que sabia.

— Podemos conversar? — repeti, tentando manter o tom neutro.

Ele não respondeu de imediato. Apenas olhou ao redor, como se estivesse calculando cada presença naquele ambiente. Constância percebeu e, sem que ele precisasse pedir, retirou-se da cozinha. Fiquei surpresa com a obediência dela, mas entendi que, naquela casa, Ozil não precisava mandar duas vezes.

— Vamos. — Ele fez um gesto com a cabeça, indicando que eu o seguisse.

Subimos em silêncio. A cada degrau, meu coração parecia bater mais alto, mais forte. Quando entramos no quarto, ele fechou a porta com calma e se encostou nela, me observando.

— Pode falar. — disse, com as mãos nos bolsos da calça escura.

Respirei fundo. Eu não sabia por onde começar, mas precisava saber quem era Beatriz naquela história. Precisava entender o que estava acontecendo ao meu redor antes de enlouquecer.

— O que exatamente existe entre você e a tal Beatriz? — perguntei sem rodeios.

Ele arqueou uma sobrancelha, como se achasse a pergunta divertida.

— Ciúmes?

— Resposta. — rebati firme.

— Beatriz é... complicada. — ele começou, dando alguns passos em minha direção. — É filha de um dos antigos generais do meu pai. Crescemos juntos. Ela sempre quis mais do que eu podia dar, mas nunca houve nada sério entre nós. Só... insinuações.

— E você deixava?

Ele parou de andar, como se minhas palavras o tivessem surpreendido.

— Eu não era exatamente um homem comprometido. — disse, num tom que me provocou arrepios. — Mas isso foi antes. Agora você está aqui. E ela... ela precisa entender isso.

— Precisa? — franzi o cenho. — Porque pelo que vi lá embaixo, ela se sente muito à vontade para falar de você como se fosse dona. E mais ainda, para me humilhar diante de todos.

— Eu resolvo isso. — ele garantiu. — Ninguém vai te desrespeitar nessa casa. Mas você também precisa fazer sua parte.

— Que parte?

— Confiar em mim.

Dei uma risada irônica.

— Confiança se constrói. Você meio que me sequestrou, me forçou a um casamento e agora quer confiança?

— A vida nem sempre oferece opções, Alana. — sua voz soou mais dura agora. — Eu fiz o que era necessário.

— Para quem? Para você? Para o seu orgulho ferido?

Ele respirou fundo, me encarando como se não soubesse o que responder. E talvez não soubesse mesmo.

— Você queria conversar. Então fale. Mas se for para me acusar, talvez não estejamos prontos para isso ainda.

Me calei por alguns segundos. Não era fácil admitir, mas parte de mim queria entender aquele homem. Havia algo nele que me confundia, que me desafiava... e, contra a minha vontade, me atraía.

— Eu quero roupas. Minhas roupas. — disse por fim. — Não quero depender da boa vontade de Beatriz ou de ninguém nessa casa. E quero uma resposta definitiva sobre seu envolvimento com ela. Você me deve isso.

Ele assentiu com um leve movimento de cabeça.

— Vamos sair à tarde. Só nós dois. Vou mandar providenciar algo simples para você vestir até lá.

— Ótimo. — me virei de costas, indo até a janela.

— Alana... — ele chamou, e quando me virei, seus olhos estavam diferentes. Mais sombrios. — Você acha que pode me odiar. Mas já é tarde demais pra isso.

— O que isso quer dizer?

Ele apenas sorriu, caminhando até a porta.

— Vista-se. A carruagem sai às três.

E saiu, sem me dar mais explicações.

Fiquei ali, sozinha, sentindo o ar pesar ao meu redor. A cada dia que passava, eu me via mais envolvida numa teia de sentimentos contraditórios. Ódio, curiosidade, desejo, raiva... tudo se misturava quando o assunto era Ozil. E agora, ainda havia Beatriz para completar o caos.

Caminhei até o espelho. A camisa dele ainda estava em mim, marcando meu corpo de forma estranha. Dei um meio sorriso amargo. Odiava depender dele até para me vestir, mas sabia que, por ora, precisava ser estratégica.

Assim que venci minha indecisão, fui até o closet novamente. E para minha surpresa, havia uma caixa sobre uma das prateleiras. Dentro dela, um vestido simples, cor de vinho, com um bilhete em caligrafia firme:

"Para não precisar usar minhas camisas outra vez. — O."

Ouso dizer que sorri.

Mas foi só por um segundo.

Porque naquela casa, até mesmo um gesto gentil, podia esconder uma armadilha.

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