Por Ele, Tudo.
O quarto parecia menor depois que a equipe de emergência foi embora. O lençol ainda manchado de sangue. As toalhas, empilhadas num canto, guardavam o cheiro ácido do parto. O abajur emitia uma luz mortiça que deixava tudo pálido, como se o tempo tivesse parado ali, na beira de alguma tragédia.
Pedro não tinha forças para se mover. Ficou sentado ao lado da cama, com o rosto apoiado na palma da mão, olhando Isabella adormecida. Miguel dormia junto ao peito dela, a boquinha entreaberta, respirando rápido, como um passarinho. Toda vez que o pequeno pulmão se expandia, Pedro sentia algo se abrir dentro dele, uma fresta de luz num lugar que por tanto tempo foi só escuridão.
Ele estendeu a mão e encostou de leve os dedos nos cabelinhos escuros que brotavam da cabeça do filho. Era inacreditável que um ser tão pequeno pudesse conter todo o sentido da vida.
Por um instante, esqueceu de Ravena, de Lúcio, de Marcelo, do futuro. Tudo sumiu. Só havia aquele menino, respirando.
Isabella acordou deva