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Capítulo 5 – A Semente da Vingança

O avião pousou em solo brasileiro sob um céu cinzento, carregado de promessas sombrias. Eu havia deixado Barcelona com a precisão de um corte cirúrgico — sem despedidas, sem bilhetes, sem dar a mínima para o caos emocional que deixava para trás. Clara chorou, tenho certeza. Mas meu foco era outro. Minha alma estava em chamas por um único propósito: destruir Israel Ravena.

Lúcio tentou me convencer a falar com ela antes de partir. — Ela vai te esperar, cara. Vai se agarrar em cada silêncio teu.

— Que espere — respondi, acendendo um cigarro. — No fundo, ela sempre soube.

E ela sabia. Clara era inteligente. Linda, sensível, mas não ingênua. Talvez fosse esse o problema. Ela via em mim o que queria ver. Não o que eu realmente era. O homem que ela amava existia só na cabeça dela. O Pedro que voltou ao Brasil era uma sombra, mais frio e perigoso do que jamais fora.

Clara me mandava mensagens todos os dias. Longas, sofridas. Às vezes só dizia: "Volta". Outras, enviava áudios com a voz embargada, sem saber se eu ouvia. Eu ouvia. Só não respondia. Porque sabia que, ao responder, estaria criando uma brecha. E eu não podia me permitir isso. Não agora.

Na minha ausência, sei que Clara se afundava em noites vazias. Imagino ela dormindo agarrada ao meu perfume, revivendo cada toque meu, cada palavra que sussurrei no escuro. Ela não fazia ideia de onde eu estava, nem entendia por que simplesmente desapareci sem avisar. Mesmo assim, ela continuava me amando. Continuava esperando. Mesmo sabendo, lá, no fundo, que talvez eu nunca mais voltasse da mesma forma.

Eu carrego essas lembranças comigo, escondidas sob camadas grossas de frieza. Lembro do calor dos nossos corpos entrelaçados, do jeito como ela me olhava quando o desejo tomava conta. Clara se entregava com uma doçura quase ingênua, mas também com uma sede voraz, como se quisesse me gravar na pele para nunca esquecer. Nunca vou esquecer a primeira vez que a tomei contra a parede do quarto — os gemidos abafados pelo meu pescoço, suas mãos ansiosas se agarrando nos meus ombros. O gosto dela ainda queimava na minha boca, e o som dos seus sussurros ecoava nos cantos mais escuros da minha memória — não como conforto, mas como um tormento. Porque eu sabia, desde o início, que jamais poderia voltar a ser o mesmo homem que ela conheceu.

No Brasil, comecei a construir a próxima fase do meu plano. Com o dinheiro sujo da Europa, abri uma empresa de fachada — Medeiros Capital Estratégica. Registrada no nome de um laranja com ficha limpa, Henrique Medeiros, a empresa era uma consultoria jurídica e financeira com sede em São Paulo, moderna, requintada, rodeada de tecnologia e poder. Por fora, parecia uma firma de elite voltada para atender grandes empresas e investidores internacionais. Por dentro, era a teia perfeita para lavagem de dinheiro, manipulação de contratos e infiltração em setores estratégicos. Um império nascendo da lama, com um propósito muito claro: atrair Isabella Ravena.

Ela era agora uma das advogadas mais promissoras do estado. Jovem, premiada, cheia de princípios. Mas todo idealismo pode ser contaminado com a dose certa de manipulação. E eu sabia exatamente como fazer isso. Não seria rápido. Nem fácil. Mas seria fatal.

No fundo, tudo que construí ali foi pensando nela. Cada detalhe do escritório, cada contato com o mundo jurídico, cada reunião com empresários podres... era uma isca. A armadilha perfeita. Eu queria que ela confiasse em mim. Queria que ela entrasse por aquela porta, sorrindo, acreditando que tinha encontrado uma nova oportunidade de carreira. E então, lentamente, eu a destruiria. Como o pai dela destruiu o meu.

Lúcio continuava ao meu lado, como sempre. Não era só meu parceiro, era agora meu amigo mais confiável. Ele era o braço direito de Marcello Mancini, o elo entre minha ascensão e a confiança do velho chefe. Vinha constantemente de Barcelona ao Brasil para garantir que eu não me perdesse por completo. Mas ele sabia. No fundo, ele sempre soube que eu já estava perdido.

— E Clara? Vai deixar ela te amar sozinha até quando? — ele perguntou, certa noite, sentado no meu novo apartamento de cobertura.

— Até ela cansar. — Dei de ombros. — Ou até ela aprender a me odiar. Melhor assim.

Ele me olhou como quem vê um homem se afogar em sua própria loucura. E talvez fosse isso mesmo.

Pouco tempo depois, recebi uma ligação criptografada de Marcello. A voz dele veio seca, carregada de tensão e autoridade.

— Está tudo como planejado? Já começou a mexer as peças?

— Já. A base está montada. O terreno é fértil. E ela vai cair. — minha voz foi firme, cortante, e gélida como uma lâmina em contato com carne viva.

— Ótimo... — Marcello respondeu, mas havia hesitação. — Giulia perguntou por você. Disse que está com saudade e quer que venha jantar conosco da próxima vez. Disse que sente falta do "nosso garoto mais perigoso".

— Mande lembranças — respondi com frieza.

Marcello manteve o silêncio por alguns segundos, depois retomou: — Pedro... só não faça nada que comprometa nossa operação antes da hora. Estou falando de sangue desnecessário, de caos prematuro. Tem muita coisa em jogo. Me diga que está sob controle.

— Está sob controle, Marcello. Mas escuta bem: tudo que eu fizer com a filha do maldito Israel Ravena vai ser cem vezes pior do que ele fez comigo. Ele vai pagar. Todos que me feriram vão pagar. Até a quinta geração. Vai ter dor, Marcello. Vai ter choro, desespero, destruição. E quando ele achar que terminou... aí vai começar de verdade.

A linha ficou muda. O silêncio de Marcello não era de aprovação, nem de medo. Era de reconhecimento. Sabia que, naquele momento, o que falava com ele não era mais um subordinado. Era um predador.

— Você se tornou algo que nem eu consigo mais prever... — ele murmurou, quase num sussurro. — Deus nos ajude se você perder o controle.

Enquanto isso, eu fazia alianças no Brasil. Comprava favores, ganhava poder. A organização de Marcello agora tinha solo fértil aqui, e eu era o seu jardineiro fiel. Reuniões em restaurantes de luxo, encontros em iates discretos no litoral, negociações com políticos locais e empresários que limpavam dinheiro com a mesma naturalidade com que serviam vinho. Mas em mim, o que crescia era ódio. E o desejo — não de redenção, mas de retribuição.

Isabella Ravena era a peça final do meu tabuleiro. E quando ela entrasse em jogo... o mundo dela desabaria. E eu assistiria tudo, sorrindo, com a alma em chamas.

A semente estava plantada. E ninguém seria capaz de deter a colheita.

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