Inicio / Romance / Desejos Proibidos de uma noite / Capitulo 7- Doce é o Veneno Que Sorrateiro Entra Pela Taça
Capitulo 7- Doce é o Veneno Que Sorrateiro Entra Pela Taça

Nada grita mais alto do que o silêncio antes da queda. Quando a paz aparente cobre uma tormenta prestes a explodir, é aí que tudo se revela.

Depois do jantar com Israel Ravena, as engrenagens começaram a girar com velocidade e precisão. O velho empresário, iludido pela promessa de renascimento, entregava-se completamente à parceria com "Rafael Navarro". Os contratos começaram a ser assinados, os investimentos injetados — todos cuidadosamente manipulados para parecer reais, sustentáveis, viáveis. Cada passo era meticulosamente planejado para dar à Ravena Engenharia uma falsa sensação de estabilidade.

E foi então que Isabella Ravena entrou no jogo.

A convocamos para atuar em um caso específico de propriedade intelectual. Um processo complexo envolvendo a disputa de um projeto arquitetônico de um complexo turístico avaliado em quase cem milhões. Duas construtoras disputavam a autoria do conceito, e Isabella foi escalada para defender nossa empresa aliada. Ela chegou à sede da empresa elegante, discreta, com pastas nos braços e um olhar que misturava foco e leve nervosismo. Quando entrei na sala e nossos olhos se cruzaram pela primeira vez, percebi. Não era como os outros. Não havia escuridão ali. Seus olhos não carregavam ambição desmedida ou malícia. Ela era luz. E eu… escuridão.

— Senhor Navarro? — disse ela, com voz firme e educada.

— Isabella Ravena. Um prazer, doutora. — respondi, estendendo a mão.

Sua mão era firme, porém delicada. Ela sentou-se, abriu os documentos e começou a trabalhar com uma determinação impressionante. Eu a observava como um espectro, tentando entender o que restaria dela quando tudo acabasse. Mas naquele instante… hesitei. Pela primeira vez, senti o peso do que estava prestes a fazer.

***************

À noite, Clara me ligou.

Sua voz vinha embargada, destruída. — Pedro… você me esqueceu. Eu não tenho mais você. Eu não tenho mais motivo para viver. Sem você, minha vida… acabou.

Fechei os olhos por um segundo, buscando dentro de mim qualquer vestígio de empatia que já tivesse existido. Mas tudo que encontrei foi gelo.

— Faça como achar melhor, Clara. Eu não posso ser sua cura. Nem sua salvação.

Silêncio do outro lado. Um silêncio tão profundo que parecia gritar. E então a ligação caiu. Permaneci olhando para a tela do celular por alguns segundos antes de jogá-lo sobre a mesa.

Horas depois, Lúcio entrou no escritório, os olhos em chamas. — Você é um filho da puta, Pedro! — esbravejou, jogando o celular sobre a mesa. — Ela tentou se matar! Clara está em um hospital! Você ao menos se importa?

— Ela não é parte do meu plano. Não posso deixar que ela me enfraqueça. — respondi, seco, sem me levantar da cadeira.

— Isso não é estratégia. Isso é desumanidade. Você tá indo longe demais!

— Eu já fui longe demais, Lúcio. E não tem mais volta. Você acha que ainda existe alguma parte minha que pode amar? Que pode salvar alguém? Não. Eu sou o que restou depois da destruição.

Lúcio me encarou como se visse um cadáver à sua frente. — Então morra com isso. Porque eu vou cuidar dela. Nem que eu tenha que te abandonar nessa loucura.

— Vá. Ela vai precisar de alguém fraco ao lado dela. — respondi.

— Fraco é quem foge da própria humanidade. Fraco é quem destrói o que ama só porque não consegue se encarar. — E então ele avançou.

O soco veio rápido. Me pegou na mandíbula e me fez cambalear. Reagi com outro direto no estômago dele. A sala virou um campo de guerra silencioso. Troca de golpes, raiva acumulada, frustração, dor.

Quando paramos, ofegantes, com sangue nos lábios e olhos marejados, ele murmurou: — Você se perdeu, Pedro. E o pior é que acho que você gosta disso.

No dia seguinte, Isabella venceu o caso. Sua atuação foi exemplar — precisa, elegante, poderosa. Ela expôs documentos com firmeza, desmontou o argumento da parte adversária e convenceu o juiz com uma clareza impressionante. Seu nome ganhou destaque nos bastidores da firma, e, como eu planejava, se tornou indispensável.

Convidei-a para jantar sob o pretexto de celebrar sua vitória.

— Isabella, você provou seu valor com maestria. Eu gostaria de lhe oferecer um jantar para discutirmos uma proposta mais… permanente. Um cargo de liderança no nosso corpo jurídico.

Ela hesitou.

— Jantar de negócios?

— Claro. Formal. Só queremos reconhecer talento quando o vemos. — respondi, com um sorriso que ela não soube decifrar.

Ela aceitou. O jogo estava em movimento.

No restaurante, escolhi uma mesa privativa à meia luz, com vista para a cidade. Isabella chegou pontual, elegante, mas simples. Um vestido preto discreto, maquiagem leve. O garçom serviu vinho e entradas sofisticadas.

— Fiquei surpresa com o convite — disse ela.

— Você surpreendeu a todos com sua habilidade. Não apenas venceu o caso, mas mostrou ter pulso e inteligência. E isso, doutora Ravena, é o que mais valorizamos aqui.

— Confesso que não esperava tanta confiança tão cedo — ela disse, sorrindo.

— Confiança se conquista com resultados. E você entregou mais do que esperávamos. Quero você como nossa advogada principal.

Ela arregalou os olhos.

— Isso é… uma proposta séria?

— Absolutamente. Com salário compatível, bônus, e autonomia. Mas tem um preço: comprometimento. Total.

— Eu sou assim. — disse ela, com firmeza. — Mas me diga, Rafael… — ela hesitou ao dizer meu nome falso — o que o fez confiar tanto em mim?

Sorri e a encarei nos olhos.

— Porque você é diferente. E, porque, para vencer essa guerra… preciso de pessoas que ainda acreditem que vale a pena lutar por algo justo.

Ela abaixou o olhar, tocada. Ingênua. Linda. Inocente demais.

**********

Enquanto brindávamos, Lúcio chegava ao hospital no exterior.

Clara estava pálida, os braços com marcas, os olhos fundos. Ela não chorou ao vê-lo. Apenas murmurou:

— Ele me matou por dentro, Lúcio.

E Lúcio chorou. Pela primeira vez desde que tudo começou, ele chorou como criança. Sentou-se ao lado dela, pegou sua mão e prometeu:

— Você vai sair disso. Mesmo que eu tenha que levar você comigo para o outro lado do mundo.

***********

E eu, em São Paulo, brindava com Isabella.

— Ao futuro — disse ela. — Ao futuro — respondi, erguendo a taça.

Mas por dentro, meu brinde era ao caos. Ao inferno que eu preparava para o pai dela. À vingança que ainda estava apenas começando.

E à morte lenta de tudo que ainda existia de bom dentro de mim.

Foi quando o celular dela tocou. Ela olhou para a tela e empalideceu.

— É o meu pai… — murmurou, olhando o visor. — Só um instante.

Observei atentamente enquanto ela atendia. Seu semblante mudou no segundo em que a voz do outro lado se fez presente. Algo ali… quebrou. O tom seguro deu lugar a um tremor nos lábios. Seus olhos marejaram em poucos segundos.

— Pai...? Como assim...? Fala devagar, não tô entendendo...

Silêncio. A mão dela tremeu.

— O quê?! A casa? A... casa tá pegando fogo?!

Ela se levantou da cadeira abruptamente, a mão ainda segurando o celular com força.

— Meu Deus… a casa… onde eu cresci… — murmurou, quase sem voz. — Pai… você tá bem?

Uma lágrima escorreu. Os olhos dela, até então cheios de luz, se desfizeram em puro desespero.

— Eu... eu vou para aí. Agora.

Desligou. Ficou ali, parada, atônita. E pela primeira vez, vi a pureza se despedaçar em tempo real.

— Isabella, o que aconteceu?

— A casa do meu pai… nossa casa… ela tá em chamas. Totalmente em chamas. A polícia apareceu na empresa dele também. Eles estão dizendo que há suspeitas de fraude, desvio... eu não sei o que tá acontecendo… tudo desabando de uma vez.

Ajoelhou-se ao lado da cadeira, cobrindo o rosto com as mãos. O garçom se aproximou, mas fiz um gesto para se afastar.

Fiquei em silêncio. Não por compaixão. Mas, porque naquele momento, vendo aquela jovem mulher ruir diante de mim, engolida por um destino que eu mesmo orquestrei… senti prazer. Um prazer amargo. Um êxtase doentio. Como se cada lágrima dela fosse uma dose da minha redenção torta.

"Esse é o início, Israel. Seu castelo vai ruir tijolo por tijolo. E o rosto da sua filha será o espelho da sua desgraça. Você me tirou tudo… e agora, verá cada pedaço da sua existência ser queimado, enterrado e cuspido de volta pela própria terra que você contaminou."

— Isabella — disse com a voz mais calma e controlada que consegui usar — vá até ele. Fique com seu pai. Se precisar de alguma coisa… qualquer coisa, me ligue.

Ela apenas assentiu, como um autômato, os olhos ainda vidrados, a mente longe, perdida entre chamas, sirenes e promessas desfeitas.

Quando saiu do restaurante correndo, os saltos batendo no mármore como marteladas, ergui minha taça ainda pela metade e sorri.

“O inferno acabou de abrir as portas. E eu sou o porteiro.”

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP