A Ponte que Clara Construiu
Quando a abracei naquela noite, não foi com a urgência de um desejo descontrolado, mas com a certeza de quem encontra abrigo após uma longa tempestade.
O corpo de Clara se encaixou no meu como se sempre tivesse sido ali o seu lugar.
Ela suspirou, e o som foi uma resposta muda às palavras que eu não sabia como dizer.
— Eu senti medo, Miguel. Ela sussurrou, com a cabeça apoiada no meu ombro.
— Do quê?
— De você acordar e não me ver.
—De você acordar e me ver demais.
Fechei os olhos e segurei a nuca dela com delicadeza.
Seus cabelos estavam se soltando da presilha , e eu afastei algumas mechas apenas para sentir o calor da pele ali.
— Eu te vejo agora. Clara. Por inteiro.
—E é assim que eu quero continuar.
Ela ergueu o rosto, e nossos olhos se encontraram.
Não havia pressa. Nem insegurança. Só presença.
Quando a beijei, foi como escrever a primeira frase de um livro que eu nunca pensei que conseguiria começar.
E ela respondeu com a mesma fome contida, c