Vozes que Ecoam no VazioTrês dias de luz branca e passos apressados se fundem em um borrão de monitor e morfina até que, enfim, a equipe decide remover o tubo. A fonoaudióloga insere um insuflador, pede que eu tussa, e a cânula sai com um estalo molhado. Sinto como se tivessem arrancado uma espinha de peixe da minha garganta. O ar volta a ser meu, áspero, ardido, mas meu. Clara segura um copo com água gelada. Ela coloca um espessante translúcido que transforma o líquido em gelatina leve, pingando sobre minha língua. Saboreio aquilo como quem saboreia chuva após a travessia no deserto. Minha voz, quando surge, é apenas um fiapo: — Isadora? —Bernardo? Os nomes flutuam, frágeis, e se quebram contra o silêncio. Clara aperta os lábios. Antes que possa responder, o médico entra, trazendo um tablet com relatórios. Ele sorri de forma mecânica: — Miguel, vamos conversar sobre seu plano de reabilitação. Teremos meses de fisioterapia intensiva. —Mas acredito que conseguirá retomar g
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