Henrique ficou sem reação. Em seguida, abriu um sorriso radiante e me deu um abraço apertado:
— Elisa, você é realmente incrível! — exclamou. — Não se preocupe. Quando você melhorar, eu vou investir novamente em uma competição de líderes de torcida. Só precisa de treinar duro, sem usar estimulantes, que você conseguirá o primeiro lugar. Eu sei que é seu sonho ficar em primeiro lugar!
Não haverá um depois. Só tenho mais vinte e quatro horas de vida.
— Isso mesmo. Se quiser ganhar prêmios, precisa treinar de forma honesta, com os pés no chão, sem ir pelo caminho mais fácil. Sobretudo, você não pode maltratar os concorrentes para ser a número um. Mesmo que vencesse assim, não seria uma vitória honrosa e isso é vergonhoso.
Forcei um sorriso. Antes que pudesse responder, senti um calor estranho no nariz, como se algo escorresse.
Levei a mão ao rosto. Era sangue... Ao ver o sangue na palma da minha mão, um pensamento me atravessou a mente. De imediato, olhei para o meu irmão Henrique e comentei:
— Se um dia eu morrer de doença… vocês sentirão a minha falta?
O quarto ficou em completo silêncio.
Meu irmão congelou por um instante, depois se recompôs e, fingindo estar irritado, pôs a mão no meu ombro:
— Que bobagem é essa? Você sempre foi tão forte, como é que iria morrer? Para de pensar nessas coisas sem pé nem cabeça. A sua irmã caçula que realmente está frágil. Devemos cuidar mais dela. Além do mais, você, como irmã mais velha, deveria ser mais tolerante; não seja tão rancorosa.
Fiquei desconcertada por um instante, mas logo compreendi. Pois é… como eles acreditariam que vou morrer em breve?
Aos olhos deles, sempre fui a irmã mais velha: forte, solitária, a “vilã” que só sabia atormentar a irmã caçula.
Baixei a cabeça, limpei o sangue discretamente e fingi estar bem.
— Eu só estava perguntando à toa…
— Aqui estão os artigos acadêmicos. Já organizei todos, podem levar.
Luísa pegou no pen drive e esboçou um sorriso de triunfo em seu rosto.
— Obrigada, irmã. Vou fazer um bom uso desses artigos.
Não respondi. Apenas me virei e saí do quarto.
No dia seguinte, Luísa publicou meus artigos acadêmicos na internet, assinando com o próprio nome. A intenção dela era exibir um falso mérito, mas não esperava que, pouco depois da postagem, meus colegas de turma viessem a público denunciando o plágio:
“Esse conteúdo eu já tinha visto a Elisa apresentar em dados de pesquisa, não é da Luísa!”
“Eu também lembro! Cheguei a vê-la pesquisando no acervo da biblioteca!”
“Quem diria… Luísa, a ‘rainha’ das líderes de torcida, cometendo plágio acadêmico. Que caráter deplorável!"
Em pouco tempo, os comentários se encheram de críticas e acusações contra Luísa.
Lendo aqueles comentários, Luísa tremia, sentindo-se indignada e injustiçada.
— Irmão...— ela sussurrou, com voz angustiada — A minha irmã me ofereceu os artigos… por que estão dizendo isso de mim? Será que eu não devia ter usado os artigos dela? Eu sei… eu nunca fui tão boa quanto ela.
Lágrimas escorriam pelo rosto dela:
— Irmão, eu não quero mais tratamento. Melhor me deixarem morrer…
Meu irmão, tomado pela dor, olhou para mim:
— Elisa, publica uma nota dizendo que você plagiou os trabalhos da Luísa, e não o contrário. Sua irmã é campeã de líderes de torcida, é uma figura de destaque na escola. A reputação dela não pode ser manchada… ainda mais doente, ela não aguenta sofrer um golpe desses.
Fiquei pasma, sem acreditar no que meu próprio irmão me pediria algo assim.
Henrique apoiou a ideia:
— Elisa, pense no bem da Luísa. O corpo dela já está tão frágil… se for ainda mais dilacerada por comentários cruéis como esses e algo lhe acontecer, como vai suportar o peso dessa culpa?
Olhei para os dois e senti como se meu coração fosse despedaçado por uma espada. Para proteger a Luísa, eles queriam que eu assumisse a culpa do plágio e carregasse essa mancha para sempre. Mas, diante dos olhares esperançosos do meu irmão e de Henrique, acabei cedendo.
— Tá bom. Eu publico.