Capítulo 46 — O Retrato de Luz
Houve um tempo antes do tempo.
Um tempo em que os nomes ainda eram segredos e as vontades moldavam o destino como o fogo molda o ouro.
É desse tempo que ela vem.
Os espelhos sempre a reconheceram, mesmo quando os rostos mudavam.
Os séculos a chamaram de muitos nomes — alguns ditos com devoção, outros com medo.
Mas ela nunca foi apenas mulher.
Era presença.
Era o eco do amor quando o amor se recusa a morrer.
⸻
Dizem que um dia houve uma mulher que não pertencia a nenhum reino, mas todos os reinos se curvavam ao passar dela.
Era feita de brisa e coragem, com olhos que traziam duas luas — uma que via o mundo, outra que via o invisível.
Os homens a temiam e a desejavam.
As mulheres a odiavam e a admiravam.
E o tempo, incapaz de compreendê-la, fez o que sempre faz com o que não entende: transformou-a em lenda.
Chamaram-na de amante, depois de feiticeira, depois de rainha — e, em todas as versões, ela foi livre.
Elena — o nome que usava nesta v