Capítulo 21 — Tango, Biblioteca, Espelhos
Voltamos para o salão com a naturalidade ofensiva de quem manda no que vê. O quarteto começou um tango manso, e as pessoas aceitaram obedecer à música. Helena me puxou pela mão — e o choque do toque dela foi um breve curto-circuito no meu corpo.
— Eu não danço tango — confessei, ridículo.
— Você anda comigo — ela corrigiu. — O resto, eu faço.
E fez. Conduziu sem parecer conduzir, como se eu estivesse onde sempre estive, como se o meu passo tivesse aguardado o dela desde antes de eu aprender a amarrar sapatos. Perto demais. O rosto dela a um palmo. O rubi, um pequeno sol particular. Senti o mundo virar ritmo.
— Olhe para a biblioteca — disse, mexendo apenas os lábios. — Porta aberta. Dois homens. O terceiro é o seu elevador.
— Saboya.
— Com o dedo no botão “queda”.
— E a gente?
— Escadas — sorriu. — É onde eu brilho.
Girou meu corpo com um toque, e, no giro, pude ver: Saboya parado na entrada da biblioteca, braços cruzados, a arrogância de um g