Capítulo 12 — As Portas de Sevilha
A chuva não parava. Cada gota que escorria pelo vidro parecia ecoar dentro da casa. Helena fechou o diário com um estalo leve, e o som pareceu atravessar o tempo. Depois, puxou o envelope com o brasão antigo e o empurrou na minha direção.
— Leia aqui. Depois devolve.
O papel era fino, mas denso como pele antiga. Dentro, uma carta escrita em castelhano, datada de séculos atrás. A assinatura era real — uma rainha cujo nome ainda fazia eco nas páginas de história.
“Que ninguém se deixe governar pela sombra quando a coroa tem luz própria.”
As palavras ardiam.
— É autêntica? — perguntei.
— Ou conveniente — respondeu Helena, sem alterar o tom. — Sempre há alguém que precisa chamar uma mulher de bruxa para justificar a própria mediocridade.
A frase ficou suspensa no ar, cortante como lâmina.
— Está me pedindo para absolvê-la?
— Estou pedindo que faça perguntas melhores, Rafael.
A lareira tremulava, projetando sombras nas paredes como fantasmas em movimento.