Giovanni saiu da cafeteria com passos firmes, elegantes, como se cada movimento fosse uma declaração silenciosa de controle absoluto. As mãos estavam enterradas nos bolsos do paletó escuro, e seu rosto… inexpressivo. Um mármore esculpido com perfeição, sem fissuras, sem emoção aparente. Era a imagem exata do homem que o mundo conhecia: Giovanni Bianchi, calculista, intocável, imperturbável.Ao seu lado, Vítor caminhava em silêncio. O melhor amigo, advogado, confidente. Sabia que aquele silêncio não era paz, era tempestade.Porque ele conhecia Giovanni como poucos. Sabia o que se escondia por trás da fachada fria e dos gestos contidos. E naquele andar rígido, no maxilar cerrado, nos olhos que não se fixavam em nada, estava claro: algo estava fora do eixo.Sophia. A distração que Giovanni não conseguia tirar da mente. Entraram no carro preto que os aguardava na frente. Vítor tomou o banco do passageiro. Giovanni, como de costume, sentou-se no banco traseiro, em silêncio. O motorista de
O relógio parecia correr mais devagar naquela tarde. Sophia terminou de servir o último cliente, limpou as mãos no avental e olhou pela janela da cafeteria. A cidade fervilhava do lado de fora, mas dentro dela, havia apenas ansiedade. O encontro com a médica não saía de sua cabeça.Pegou sua bolsa, avisou discretamente à colega que sairia um pouco mais cedo e saiu pela porta dos fundos. Logo em seguida, chamou um táxi. O motorista, um senhor de aparência simpática, perguntou o destino, e ela apenas mostrou a tela do celular com o endereço que Giovanni havia enviado.O percurso foi silencioso. Sophia olhava as ruas passando rapidamente, tentando conter a inquietação que crescia a cada quilômetro. Quando o carro finalmente parou, ela olhou pela janela e engoliu em seco.O prédio era imponente. Alto, de fachada espelhada, com colunas elegantes e uma recepção toda em mármore branco. Pessoas bem vestidas entravam e saíam, todas em ternos alinhados, vestidos finos, saltos caros. Ela desceu
Do lado de fora, o céu começava a escurecer. A tarde morna se transformava em um início de noite frio e cinzento. Sophia não quis chamar um táxi logo de imediato. Precisava de ar, de espaço, de silêncio.Caminhou algumas quadras em direção à estação de metrô mais próxima, com os braços cruzados sobre o peito como se pudesse se proteger de tudo: da cidade, do peso do mundo… de Giovanni.Mas ela sabia que era inútil. Ele estava dentro dela agora. Presente em cada memória recente, em cada sensação, em cada marca ainda latejante sob sua pele. Ele havia invadido seu corpo, e agora ocupava sua mente.E o pior? Ela o deixará entrar. Ela quis. Quis sentir o que sentiu. Quis que ele a olhasse daquele jeito. Quis acreditar que, no fundo, havia algo mais.Mas hoje, com o olhar clínico da médica avaliando seu corpo como se fosse um dossiê, com perguntas sobre preservativos, anticoncepcionais, limites, relações… Sophia viu com clareza.Não era só prazer, era um contrato, obediência, controle.Ela
Sophia ficou alguns segundos em silêncio, alisando delicadamente os fios escuros da irmã adormecida em seu colo. Hanna tinha os traços calmos, a respiração ritmada. Inocente demais para imaginar o tipo de escolha que a irmã havia feito por ela.Amélia estava sentada ao lado, e mesmo sem pressionar, Sophia sentia o peso do olhar atento da amiga. Aquilo que carregava no peito estava à beira de transbordar fazia dias, e agora… não dava mais para esconder.— Eu aceitei, Amélia. — disse, enfim, num sussurro. — aceitei a proposta de Giovanni.Amélia demorou um segundo para reagir. Seu corpo se enrijeceu, e os olhos, antes apenas curiosos, agora estavam tomados por uma mistura de surpresa e incredulidade.— Você… — ela começou, mas a voz lhe falhou e engolindo seco, continuou: — Você se entregou a ele? Como… submissa?Sophia assentiu devagar, com um movimento quase imperceptível.— Sim.Amélia a encarou, o choque se transformando rapidamente em algo mais intenso. Ela se ajeitou no sofá, sem
Quatro dias.96 horas…5760 minutos…345.600 segundos…Esse era o tempo que havia se passado desde o último encontro com Giovanni Bianchi. Quatro dias de silêncio absoluto. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum sinal.Sophia tentou convencer a si mesma de que era melhor assim. Que cada dia sem ele era um passo rumo à libertação. Mas a verdade era que… cada ausência deixava um espaço doloroso dentro dela. Um buraco fundo e frio onde antes existia intensidade, mesmo que essa intensidade viesse com humilhação, prazer e confusão.Mas a vida não parava e ela também não.Durante o dia, a rotina era implacável: acordava cedo, preparava o café, ajudava Hanna a tomar os remédios, conferia os horários da escola e se despedia com um beijo. Depois, a primeira parada era na lavanderia do bairro, onde passava a manhã entre roupas, máquinas e o cheiro constante de sabão em pó. No fim da manhã, seguia direto para a cafeteria, onde as horas se arrastavam em meio a pedidos, bandejas, sorrisos força
O quarto do motel estava mergulhado em uma penumbra aconchegante, quase cúmplice, iluminado apenas pela luz suave e âmbar do abajur ao lado da cama. As paredes ainda pareciam vibrar com o eco dos suspiros, dos toques, dos corpos que se encontraram com sede e urgência. O cheiro de prazer ainda pairava no ar, misturado ao perfume doce de Antonella e ao amadeirado sutil da pele de Vítor.Ela estava deitada sobre o peito dele, completamente nua, as pernas entrelaçadas às dele, os cabelos loiros caídos em ondas desfeitas pelos ombros e costas. Seus dedos deslizavam preguiçosamente sobre o abdômen de Vítor, desenhando formas sem sentido, enquanto a respiração do homem começava a desacelerar, mais tranquila agora.Ele acariciava suas costas com os nós dos dedos, de forma lenta, quase reverente. Um carinho silencioso, mas cheio de ternura. Os olhos dele estavam fechados, aproveitando o momento, mas não tão relaxado quanto ela imaginava.Antonella ergueu o rosto vagarosamente, repousando o que
A noite pulsava viva, embalada pelas luzes coloridas que decoravam a nova unidade da cafeteria recém-inaugurada.O frio suave da cidade parecia não atingir aquele pequeno paraíso retrô que Aldo criara com tanto carinho.As mesas externas estavam tomadas, o aroma de café fresco e hambúrgueres caseiros se misturava à música retrô que ecoava suavemente, criando uma bolha encantadora de nostalgia moderna no meio da cidade agitada.Sophia desceu do táxi sentindo o coração bater rápido demais dentro do peito.O vento da noite bagunçou seus cabelos, trazendo consigo uma sensação agridoce de nervosismo e expectativa.A primeira coisa que viu foi a fila de jovens na porta, ansiosos, muitos gravando stories, outros apenas sorrindo encantados com a decoração vintage feita de vinis, letreiros de néon e pôsteres antigos.E foi ao atravessar as portas de vidro que ela sentiu.Todos os olhares se voltaram para ela.Não foi pela música, nem pelo menu especial. Foi por Sophia.O vestido retrô que Aldo
Antonella olhou na direção de Sophia e sorriu atravessando o salão com a graça de quem nasceu sob os holofotes e por onde passava, as cabeças se viravam, não apenas por sua beleza marcante, mas pela energia que ela carregava. Antonella era uma mulher que não pedia espaço, tomava-o.Sophia engoliu em seco, tentando recompor a expressão. Não esperava vê-la ali, muito menos naquela noite. O coração bateu forte, será que ela trazia um recado de Giovanni? Mas Giovanni não era o tipo de homem que mandava recados, ele dava ordens. O que Antonella Bianchi estava fazendo ali? Antonella se aproximou com aquele andar seguro de quem carrega poder no sangue. Um sorriso encantador enfeitava os lábios bem desenhados, mas os olhos… os olhos diziam outra coisa. Eram analíticos, intensos, como se buscassem atravessar cada camada de Sophia para descobrir o que Giovanni tanto escondia.— Olá, Sophia. Está lembrada de mim?Sophia hesitou por um instante, ajeitando o avental com os dedos trêmulos e tentan