Marie Leroy chegou a Nova York numa quarta-feira abafada de novembro, trazendo a elegância cuidadosa que aprendera em Paris, mas também o peso de uma saudade que lhe ensombrecia o sorriso. Na alfândega, apresentou passaporte com a mesma firmeza com que um dia ofereceu os pulsos a grilhões de couro e apesar de o agente não saber disso, o tremor que percorreu sua espinha não tinha nada que ver com burocracias, mas com o nome que latejava em sua mente havia semanas: Giovanni Bianchi.
Quase dois anos antes, ela partiu para a França pretendendo reinventar-se. Estudou História da Arte, flertou com novos amantes, vestiu outras peles. Ainda assim, nas noites em que o Sena refletia luzes de pontes antigas, recordava o murmúrio grave de um homem que a ensinara a dissolver-se entre ordens e prazer. Giovanni foi o seu Dom e não apenas isso: foi o primeiro a decifrar as sombras por trás do verniz impecáve