A cirurgia daquela tarde era delicada: uma fratura exposta no fêmur, associada a múltiplas lesões vasculares.
A sala estava cheia — dois anestesistas, instrumentadores, residentes, e os olhares atentos da comissão de avaliação interna do hospital, que observava os procedimentos em situações de alta complexidade.
O ambiente era uma panela de pressão.
Helena ajustava as pinças com precisão, mas seu coração batia rápido demais. Talvez fosse o cansaço acumulado. Talvez fosse o peso de tudo o que vinha carregando nos últimos dias — o afastamento de Rafael, a raiva contida, o reencontro com fantasmas antigos.
Ela tentava se concentrar, mas havia uma tensão estranha em seus movimentos, uma hesitação mínima que não passou despercebida aos olhos atentos de Rafael.
— Clamp vascular — pediu ele, com calma.
Helena entregou, mas no instante seguinte, ao manipular o campo operatório, sua mão falhou — um deslize ínfimo, quase imperceptível, m