Inicio / Máfia / DEUSA DA YAKUZA / CAPÍTULO 05 Harumi
CAPÍTULO 05 Harumi

Quando volto para o porão, Long está ao celular. Ele para de murmurar algo assim que me vê e, com um “nos falamos mais tarde”, desliga o telefone, se aproximando de mim.

— Volto amanhã para vê-lo — aponta para a cesta no canto do colchão. — Aí está tudo o que você precisa. Cuide bem dele. Vou manter as coisas lá em cima sob controle enquanto você cuida do nosso passaporte para fora deste inferno.

Assinto com a mandíbula tensa, os olhos fixos no ferido como se ele fosse uma bomba prestes a explodir.

Long deixa um beijo na minha testa e se afasta. O silêncio ao redor me engole por completo.

Resignada, caminho até a cesta, tentando controlar o tremor nas mãos.

Abro a tampa de vime e encontro o essencial: bandagens limpas, álcool, pomadas cicatrizantes, linha e agulha cirúrgica.

Pelo menos Long pensou em tudo.

Vou até uma das garrafas de água, derramando o conteúdo sobre uma bacia. Terei que limpar tudo antes de começar a cuidar de cada ferimento.

Com cuidado, corto os restos da camisa grudada em seu peito.

Uma de suas feridas é assustadora, profunda e irregular, como se alguém tivesse tentado arrancar a alma dele com as próprias mãos. A pele lateja, viva, e o sangue escorre devagar, como se lamentasse a dor que foi infligida.

— Ótimo. Eu vou ter que te costurar — murmuro. — Vê se não morre. Não complica ainda mais minha vida.

Molho o pano na água e já deixo outro pronto para o álcool. Começo a limpar o corte. Seu corpo se contrai levemente, mesmo sob sedação. A testa franze, como se ele lutasse para permanecer consciente.

— Desculpa... — sussurro, pressionando o pano contra a carne ferida. — Seja bonzinho... aguente firme.

O cheiro de sangue e álcool preenche o ar, pesado e metálico. Após limpar sua pele e desinfetar, começo a costura com o máximo de precisão que consigo. Ponto por ponto, respiro fundo para conter o pânico.

Cada ponto parece costurar também minha própria sanidade.

— Sabe... o Long é meio louco, mas ele é gente boa. Espero que você não o decepcione.

Termino o curativo com uma camada de gaze firme e sigo para as mãos inchadas, marcadas por hematomas.

São mãos largas — tão grandes que a minha parece minúscula ao lado delas. Alguns dos dedos têm pequenos cortes, então, após limpar os ferimentos, aplico a pomada com cuidado.

E assim me preparo para a segunda fase da minha tormenta: encarar aquelas costas marcadas por cada chicotada que ele recebeu.

Com muito esforço, consigo virá-lo. Mas logo me amaldiçoo, a ferida que acabei de costurar pode abrir. Agora já era.

Ajeito sua cabeça com cuidado e começo a limpar as costas, que estão ainda piores do que a frente.

No lado direito, há uma tatuagem: uma caveira com uma adaga atravessada por dentro da boca, cercada por espinhos. Logo abaixo, há uma frase em latim, mas os cortes que passam por cima tornam difícil decifrá-la por completo.

Volto a focar na minha obrigação, limpando cada ferida com o máximo de cuidado. Assim que termino, com ainda mais esforço, o coloco de volta na posição anterior. Ele solta um leve gemido e eu paraliso.

Fico imóvel, o coração preso na garganta, até que, após alguns segundos sem mais ruídos da parte dele, volto a limpar seu rosto e pescoço com o pano úmido.

Quando tudo finalmente termina, deixo meu corpo cair no chão ao lado dele, exausta. Os joelhos doem, os ombros queimam, e as mãos... tremem como folhas ao vento.

Observo aquele homem destruído à minha frente. Mas mesmo quebrado, há algo nele que chama minha atenção. Uma força estranha, silenciosa. Uma presença que, mesmo inconsciente, impõe respeito.

Ou talvez... esperança.

— Você tem ideia do que está fazendo? — pergunto baixinho, como se esperasse uma resposta. — Espero que sim... porque, se tudo der errado, você não será o único a morrer.

Encosto a cabeça na parede de pedra fria, fecho os olhos por um instante... e escuto.

Lá em cima, a casa respira mentiras.

Aqui embaixo, só restamos eu... e a última esperança de fuga.

Espero, do fundo do peito, que Long esteja certo... porque se ele estiver errado, não vai sobrar nada de nós para contar história.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP