Capítulo 29
A manhã começou com o cheiro de café e uma sensação estranha no peito, como se algo estivesse mudando em silêncio, dentro de mim. Não era incômodo. Era quase um alívio, mas ainda me pegava desprevenida.
Era como se eu estivesse, enfim, começando a me permitir viver algo novo.
Depois do encontro da noite anterior, não um encontro no sentido romântico tradicional, mas na forma como duas presenças se encaixam em silêncio, eu não conseguia parar de pensar em Miguel. Nos gestos dele. Na calma que ele trazia. No fato de que ele ainda estava ali.
Me vesti devagar, com a mente divagando mais do que o normal. Coloquei uma blusa leve, prendi o cabelo de qualquer jeito e peguei o caderno onde vinha registrando pensamentos, rascunhos da restauração, e algumas frases que me ajudavam a entender o que sentia.
“Algumas dores só se curam quando a gente se permite sentir de novo.”
Escrevi isso na margem de uma página amarelada, enquanto tomava os últimos goles do café. A xícara vazia sobre