Capítulo 50
Foram meses intensos. De despedidas silenciosas e começos barulhentos.
A mudança para Belo Horizonte não foi apenas um salto geográfico, foi simbólica. Um marco entre o que éramos e o que nos tornamos juntos. No início, viver sob o mesmo teto pareceu um experimento, um desafio disfarçado de aventura. Mas logo se transformou na nossa casa. Nossa rotina. Nosso mundo.
O apartamento não era grande. Mas tinha luz em abundância, livros empilhados por todos os lados e duas xícaras favoritas sempre secando sobre a pia. Miguel passou a trabalhar em um instituto de urbanismo local, ajudando em projetos de reestruturação de centros históricos, e eu aceitei um convite para restaurar as peças sacras de uma igreja barroca no bairro Santa Tereza. Nossos projetos se encontravam nos detalhes, ele traçando linhas, eu devolvendo histórias esquecidas à superfície de madeiras carcomidas pelo tempo.
Às vezes, nos perdíamos por horas em nossas tarefas. Outras, nos encontrávamos no sofá, com os p