Capítulo 47
Era estranho pensar que os dias ali estavam chegando ao fim. O casarão já não pedia socorro como antes. Era como se ele estivesse respirando mais tranquilo, como se enfim tivesse sido ouvido depois de anos de silêncio e descuido.
Meus dedos deslizavam pela madeira restaurada do corrimão da escada principal. Toquei cada entalhe como se me despedisse de um velho amigo. E talvez fosse mesmo isso.
Eu havia me transformado entre aquelas paredes. E agora, tudo ao redor parecia refletir essa mudança. Até o cheiro do casarão tinha mudado. De mofo e passado, para verniz novo, memória restaurada.
— Pronta? — ouvi a voz de Miguel atrás de mim.
Virei e o encontrei encostado no batente da porta, me observando com aquele olhar calmo, atento. Vestia uma camisa azul-marinho de linho e calça clara. Simples, mas bonito de um jeito que me fazia perder o ar por alguns segundos.
— Acho que sim. — respondi. — Ou o mais pronta que consigo estar.
Ele estendeu a mão.
— Então vamos.
Era noite de fe