Capítulo 48
A casa estava silenciosa naquela manhã de domingo, exceto pelo som baixo do rádio antigo que Miguel havia restaurado tempos atrás. Tocava alguma música instrumental, suave o suficiente para que eu ainda ouvisse os barulhos do mundo do lado de fora, passos na rua de pedra, uma carroça passando devagar, e os sinos da igreja lá no alto, marcando nove horas.
O casarão parecia respirar outro ar desde a reabertura. As paredes, antes gastas pelo tempo, agora pareciam sustentar algo mais do que estrutura. Carregavam memória, orgulho e, de um jeito discreto, o começo de algo novo. As visitas continuavam acontecendo aos fins de semana, e alguns eventos culturais já haviam sido marcados para os meses seguintes. Mas, mais do que o movimento, era o sentimento de pertencimento que me fazia olhar tudo de forma diferente.
— Você está bem aí? — ouvi a voz de Miguel vindo do quintal.
Sorri sem responder de imediato. Estava sentada no banco de madeira, sob a sombra do velho ipê amarelo, com