— Visão de Henry

Eu aprendi, nesses últimos dias, que o tempo dentro de um hospital não obedece às regras do mundo. Ele se estica quando a dor aperta e corre quando a esperança aparece. E naquela manhã, quando vi minha mãe atravessar as portas automáticas do hospital com os olhos marejados e a postura firme de quem veio salvar uma vida, eu soube que algo tinha mudado.

Ela tinha vindo dos Estados Unidos naquela madrugada. Não dormiu. Não reclamou. Não fez perguntas desnecessárias. Apenas me abraçou com força, como fazia quando eu era criança e achava que o mundo ia acabar por qualquer coisa pequena.

— Eu estou aqui — ela disse. — Vamos lutar por ela.

Alyce.

Minha filha.

A menina que tinha virado meu centro, meu eixo, meu medo mais profundo.

O transplante com o sangue do cordão umbilical de Victor era a nossa maior aposta. Uma chance rara, delicada, quase milagrosa. Os médicos tinham sido cautelosos, mas claros: a quantidade coletada foi suficiente. Tecnicamente, era possível. Clinicame