Lorena
Ver ele ali, largado no sofá, com o cotovelo apoiado no joelho e a cabeça afundada nas mãos, doía mais do que qualquer porrada que a vida já me deu. O Kaíque que eu conheci lá no alto do morro era rei. Postura reta, olhar afiado, dedo no rádio e a boca na bala. Todo mundo respeitava. Todo mundo temia.
Mas aquele homem na minha sala…
Era só um cara quebrado.
Um soldado sem guerra.
Um menino que teve o mundo arrancado na marra e agora tentava aprender a ser “gente comum”.
E eu?
Eu tava disposta a andar com ele no inferno, se fosse preciso.
Naquela manhã, deixei o café coado no bule e fui direto no peito dele com a verdade.
— Vai tomar teu banho, Kaíque. Hoje a gente vai bater perna até achar um trampo.
Ele não discutiu. Só bufou, como quem engole o orgulho seco. Levantou, foi pro banheiro. Quando voltou, parecia outro.
Jeans surrado, camiseta branca simples, o tênis lavado com escova de dente no dia anterior. Cheiroso. A barba feita.
Mas o olhar... O olhar ainda carregava o peso