Kaíque
Eu tentei correr. Tentei apagar o passado com fuga, silêncio e esperança. Tentei recomeçar, mas a rua me ensinou que guerra não tem pausa. Ela te encontra até no esconderijo mais longe.
O nome dele corrói por dentro igual ácido: Cobra.
Traíra. Falso. Judas de fuzil.
Cresceu do meu lado, mamou do mesmo barraco, dividiu o último arroz, segurou arma comigo nos beco da vida… e depois tentou me apagar. Me enterrar vivo. Como se eu fosse lixo.
Mas lixo é ele.
E agora ele tá atrás de mim. Atrás da Lorena. E do nosso filho.
Vai pagar. Com sangue. Com cada osso quebrado. Com cada lágrima que ela já derramou por minha causa.
O dia nem tinha clareado quando eu abri o olho. Lorena dormia colada em mim, o corpo cansado, mas sereno. O rosto encostado no meu peito, os cabelos bagunçados, a respiração leve… e a barriga dela já denunciando o futuro. Ali dentro, tá meu mundo. Minha redenção. Meu pedaço mais puro.
Eu pensei em sair calado. Ir resolver essa guerra sozinho. Mas, quando fui levantar