Lorena
Nunca fui mulher de frescura. Cresci no luxo, na riqueza, mas cercada de mentiras e aprendendo a me virar sozinha. Mas agora… com um filho crescendo dentro de mim, tudo é diferente. Tudo dói mais.
Acordei com o cheiro de pão assando no forno de barro. O casal que nos recebeu era simples, mas com um coração gigante.
O marido, Francisco, tinha mãos calejadas de quem plantava o sustento. A esposa, Mariana, era daquelas que olham no teu olho e sabem quando cê tá quebrada por dentro.
— Dormiu bem, minha filha? — ela perguntou, me servindo um café forte.
— Dormi… como deu. A estrada cobra, né?
Ela sorriu e passou a mão no meu cabelo, com um carinho de mãe que a vida nunca me deu.
Kaíque não disse nada naquela manhã. Tava tenso, diferente. Os olhos dele vasculhavam o horizonte como se esperasse o mundo acabar a qualquer segundo. Eu conheço aquele olhar. A guerra tá chegando de novo.
Fingimos normalidade. Fomos até a horta ajudar, conversamos sobre a tal cidade onde talvez a gente foss