Laís
A segunda-feira começou com um e‑mail que tinha cheiro de sala fria: “Ofício nº 214/SMCG – Solicitação de Documentos e Visita Técnica”. Era da Controladoria do município. Não era acusação, não era denúncia formal. Era uma lista impessoal de anexos a enviar e a proposta de uma visita no espaço da ONG para “conhecer fluxos e rotinas”. Ainda assim, a palavra “ofício” entrou por baixo da minha pele.
Nanda leu duas vezes e respirou. — Não é o fim do mundo. É procedimento. Se quisessem nos derrubar, não pediam, entravam já com martelo. — Ajustou os óculos e levantou a cabeça. — Vamos responder hoje ainda, com serenidade.
Eduardo, ao meu lado, cruzou os braços como quem segura o próprio impulso. Breno apareceu com duas canecas de café e resumiu do jeito dele: — Se vierem medir a casa, a gente mostra até o forro. Só não vamos serrar as pernas da mesa para caber na régua torta deles.
Rimos sem muita convicção, mas rimos.
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A ONG virou formigueiro silencioso. Lucas abriu pastas, montou u