Laís
O domingo amanheceu claro, o céu aberto como se anunciasse um recomeço. No celular, as primeiras notificações eram manchetes positivas: fotos de crianças sorrindo, mãos pequenas segurando regadores, frases de professores exaltando o mutirão. A ONG estampava as páginas locais com títulos como: “Raízes Vivas renova esperança” e “Comunidade se une em festa pelo futuro”. Eu suspirei aliviada ao mostrar para Eduardo, que ainda estava deitado ao meu lado. Ele sorriu, beijou minha testa e murmurou:
— Por um segundo, parece que tudo valeu a pena.
Queria acreditar que aquele respiro duraria. Mas o descanso foi curto. Ao abrir as redes, o rosto de Felipe surgia em novo vídeo.
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Eduardo
O homem parecia mais abatido que antes, mas o tom era agressivo, quase desesperado. Atrás dele, uma estante cheia de livros jurídicos; ao lado, um advogado engravatado. Felipe falava em voz dura: “Não se enganem. O evento de ontem foi manipulação emocional. Usar crianças como escudo é prática vergonhosa.