Laís
O dia amanheceu com o mesmo sol de sempre, mas parecia outro. O relatório tinha dado fôlego, sim; porém, as palavras de Clara — auditoria, diálogo, “cidade acima de tudo” — se espalhavam como poeira fina, pousando devagar sobre cada conversa. Na recepção da ONG, as primeiras ligações chegaram antes das oito: duas escolas querendo ampliar parceria; um pai perguntando sobre inscrições; um vereador pedindo “uma visita técnica” para conhecer os canteiros. Nanda ouviu tudo com a caneta em riste, anotando, pesando cada sílaba.
— Agenda cheia é bom, mas não confundam interesse com acolhimento. — disse, apoiando a pasta no balcão. — Tem gente vindo para aprender, e tem gente vindo para nos medir com régua torta.
Eduardo passou atrás de mim com um maço de cartazes e um beijo rápido na têmpora. Foi um gesto tão pequeno quanto necessário. Eu respirei mais fundo.
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A “sala de guerra” foi montada de novo. Lucas abriu os painéis de monitoramento: termos, picos de menções, mapas de calor por