3: O Gosto do Nunca

O quarto era bonito demais. Cortinas esvoaçando com o vento salgado do mar, lençóis brancos impecáveis, uma poltrona azul em um canto, e o silêncio… Deus, o silêncio.

Mas era um silêncio estranho. Denso. Quase afiado. O tipo de silêncio que avisa: você vai lembrar disso pelo resto da vida.

Isadora estava sentada na beirada da cama, espremendo a barra do casaco. Não entendia como tinha chegado ali. Ou pior: por que ainda estava.

Enzo estava perto — mas parado. Encostado na parede, como se tivesse medo de quebrá-la com um gesto errado.

— Está tudo bem? — ele perguntou, voz baixa, rouca. Uma fresta na tensão.

Ela hesitou. Não sabia. O peito apertava de um jeito estranho. Como se algo estivesse prestes a acontecer… e já fosse tarde demais para impedir.

— Se quiser ir embora, eu levo — continuou. — Eu só… queria fugir. Um pouco. Com você.

Ela assentiu, mas não falou. O coração batia rápido demais para sustentar palavras.

Ele caminhou até ela e se sentou. Próximo o suficiente para que ela sentisse o calor, mas longe o bastante para que fosse escolha dela.

— Às vezes, parece que vivo a vida de um fantasma — ele murmurou. — Tudo ao meu redor grita poder, herança, sangue. Mas eu? Eu só obedeço. E finjo que não estou sufocando.

Isadora o olhou de lado.

— A Valentina é perfeita no papel. Mas não é... real. É política. Aliança. Aparência.

Silêncio.

— Mas você — ele disse, virando-se para ela — você é a única coisa de verdade que encontrei em muito tempo.

E foi aí que o chão começou a ceder.

Enzo tocou os dedos dela com uma delicadeza que contradizia tudo o que ele parecia ser. As mãos dele, tão seguras, agora hesitavam — como se pedissem permissão.

— Você é o que eu queria. Mas não devia.

Ela prendeu a respiração.

Ele se aproximou mais. Devagar. Os olhos nos dela. As mãos em seu rosto.

E então, ele a beijou.

Não foi apressado. Nem faminto. Foi terno. Demorado. Como se ele estivesse tentando memorizar o gosto dela.

Mas aquilo não durou.

Porque logo o beijo se intensificou. E quando ele a puxou para o centro da cama, ela foi. Por escolha. Por necessidade. Por um desejo que ela fingia não conhecer.

As roupas caíram como promessas quebradas — uma a uma.

Era a primeira vez dela. E mesmo sem dizer, ele parecia saber.

— Você é linda — ele sussurrou. — Eu juro que ninguém vai machucar você de novo.

Ela acreditou.

O corpo dela reagiu como se estivesse sendo curado. Tocada por mãos que pediam e não tomavam. Amada por um momento que parecia infinito.

Quando ele a penetrou, ela chorou. Mas não de dor. Chorou pela menina esquecida, pela adolescente invisível, pela mulher que, por um instante, foi escolhida.

Depois, deitada sobre o peito dele, traçou círculos lentos na pele com a ponta dos dedos.

— E a Valentina?

Ele demorou.

— Eu resolvo isso — murmurou. — Você merece mais.

Ela sorriu. E dormiu achando que, talvez, merecesse mesmo.

***

O sol já havia subido quando ela acordou.

A cama ainda estava quente, mas vazia. A camiseta dele — que antes estava na poltrona — havia sumido. O relógio também. O cheiro dele… desaparecera.

Isadora se sentou devagar.

O silêncio agora era outro. Gélido. Um aviso.

Vestiu o casaco com as mãos tremendo. Desceu as escadas com o estômago já em queda livre.

Na garagem, um carro a esperava.

— Ele mandou você? — perguntou ao motorista desconhecido.

— Tenho ordens de levá-la de volta, senhorita. Só isso.

Ela entrou sem dizer nada. O peito doía de um jeito que não dava para explicar.

Durante o trajeto, tentou racionalizar: ele só saiu para resolver algo urgente. Voltaria. Ligaria. Daria explicações.

Mas nenhuma desculpa silenciava o alerta no peito: você foi usada.

***

Assim que chegou à mansão, um funcionário a interceptou.

— Senhora Clarisse quer vê-la. Agora. Na sala principal.

Isadora congelou.

O mundo estava prestes a ruir. E ela sabia.

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