Narrado por Isabela
A liberdade tem um som estranho. Não é o silêncio absoluto. É o som do que sobrou depois que tudo caiu.
Victor e eu deixamos São Paulo com duas malas, um carro velho e uma história que ninguém queria ouvir — ainda. O império Aguiar havia desmoronado, mas os escombros estavam dentro de nós. A mídia se calou. Os advogados se afastaram. Os aliados evaporaram. E nós… sobrevivemos.
Mas sobreviver não é o mesmo que viver. E viver exige coragem.
Nos instalamos numa cidade pequena no interior de Minas. A casa era simples, com janelas grandes e um quintal cheio de árvores. O aluguel era barato. O silêncio, gratuito. Victor começou a trabalhar com design de projetos sociais. Eu me inscrevi num curso de psicologia. Queríamos entender o mundo. E a nós mesmos.
Mas havia uma distância entre nós. Não física. Era uma distância feita de tudo o que não foi dito.
Na primeira semana, Victor dormia no quarto ao lado. Às vezes, eu ouvia seus passos na madrugada. Ele andava pela casa com