"Aprendi que adolescência é uma aventura divertida tanto quanto perigosa. Dela coletamos cicatrizes e marcamos o tempo com coisas que variam de boas à ruins, dependendo do nível de inconsequência que nos guia. Entretanto, dela aprendi que não existe sorte ou azar, destino ou acaso. São só desculpas que as pessoas inventam para fugir do verdadeiro motivo das coisas acontecerem: as escolhas.Quando se dá pulos no tempo, se tropeça em armadilhas por detrás de encantos da mocidade e por vezes se cai em desencantos devastadores, mas o destino sempre faz nascer maturidade das inconsequências."
Ler maisPassava da meia noite e eu rebolava pela cama completamente desarrumada, buscando por uma posição que se não me permitisse cair no sono, me permitisse sossegar meu corpo dos tremores.
— Estourou! — deitada de bruços, sussurava a palavra dita por ele e mordiscava meu relógio menstrual.
Minhas lágrimas faziam trilhos grossos pelo meu rosto e encharcavam meus lençóis, quando pensamentos bizarros me apareciam na mente, esfumando minha quietação e me desorientando cada segundo mais. Me encolhi no meu desespero e não vi nada mais que um futuro completamente distorcido e contrário do que meus pais queriam que eu tivesse. Estava tão perdida nas consequências dos meus atos, que estava impossibilitada de ver possíveis soluções para meu problema.
Mano, oque foi que eu fiz?
Essa frase ecoava na minha mente e contorcia minha expressão a cada repetição.
Tentar imaginar as reações dos meus pais apenas piorava as coisas, me doíam os ouvidos de tanto lhes simular a fúria. Meu coração era uma caixa de som que reproduzia perfeitamente meu desespero e suas fortes batidas geravam intensidade no meu choro. O facto de ser tudo tão prematuro me amedrontava tanto que eu me sentia incapaz de respirar normalmente. Chorar não aliviava absolutamente nada quando, aos poucos, meus dedos gelados iniciavam vibrações em torno do relógio lilás.
Várias coisas me tiravam o sossego, dentre as quais ter que encarar a sociedade com uma barriga enorme e a minha própria aceitação me pareciam as mais difíceis de lidar.— Meu Deus! — soltei num sussurro corrompido e lambi meus lábios salgados.
A fome era uma reação do meu corpo ao pânico que sentia. Então, de vez em quando, para além do som do meu desespero, meu estômago também emitia graves arrotos. Todo aquele caos no meu interior me fez cair no erro da hipocrisia e questionar a existência de Deus, naquele momento. Eu tive escolhas melhores e uma delas foi serví-lo, mas ignorei como se nada fossem, alegando que o melhor seria dormir nos braços de um rapaz depois de uma tarde de sexo.
Quanto azar...
Com movimentos desgastados, limpei meu rosto e rebolei até a borda da cama, me permitindo cair no chão que me acolheu com sua frieza e dureza. Levantei sem ao menos reclamar e tentei regular meus pensamentos sempre que dava passos imprecisos até a cozinha.
A casa estava em silêncio, apenas com ares e cantigas noturnos. A luz da lua atravessava o corredor ao qual eu atravessava, projectando lindamente alguns galhos da mangueira perto da janela. Eu adoraria apreciar aquilo se meu estômago não me estivesse a apressar e se não estivesse entupida de preocupações.Entrei na cozinha e fui directo para a geleira em busca de algo que me satisfizesse a fome ou pelo menos me permitisse esquecer, por um segundo que fosse, a confusão que se passava no meu íntimo. O peso de tudo me fez apoiar minha testa na porta da geleira e o ar frio que dela saía criava ondas de arrepios que me incentivavam a chorar ainda mais.
Enquanto isso, eu me convencia cada vez mais de uma coisa: estava lascada.
Cheguei à casa exausta e confusa, fui para meu quarto rezando para que não fosse interceptada por ninguém. Aquela noite trazia promessas chuvosas e me deixava mais vulnerável ao choro, queria desabar completamente para nunca mais fazê-lo.Entrei no meu quarto e vi que minha mãe dormia na minha cama. Estava de barriga para cima e com as mãos cruzadas por cima do seu abdômen. Embora estivesse a ver que respirava, senti uma necessidade de acordá-la só para ter certeza que estava tudo bem.— Mãe! — entrei no quarto com passos de ballerina, oque não fazia o menor sentido. — Mãe!Deixei minha pasta de costas dentro do guarda-roupa e me virei para ver minha mãe abrir seus olhos como se fosse a primeira vez. Olhou para mim por um tempo e arrastou seu corpo até estar sentada.— Já voltei. — disse enquanto desabotuava minha camisa de uniforme.— Tudo bem? — sua voz saiu rouca, acompanhada de um bocejo.
— Quantos quilômetros quadrados tem essa casa? — Não sei dizer. — riu.— Quem está aqui? — perguntei passando pela sala e seguindo seus passos.— Ninguém. Minha mãe foi trabalhar, meu pai viajou e a empregada tem saído cedo, ultimamente.— Ah, estámos sozinhos. — tentei transmitir uma calma que estava à milhas de existir.— Vem, vamos conhecer meu quarto. — parou e estendeu sua mão para mim.— Você também não conhece? — ri e peguei na sua mão meio contrariada. — Espera, conhecer teu quarto?— Não é oque estás a pensar.— Não é oque está a pensar que eu estou a pensar. Você não queria que eu conhecesse teu quarto, porquê isso agora? Sem responder nada, Weben me puxou pelas escadas à cima e entramos no seu quarto. Não era tão grande quanto eu julguei que fosse, era bem pequeno e recheado de uma cama, cabec
— Olá, mais uma vez. — disse sem esperar que eu me sentasse no banco de passageiro.— Oi, oque quer falar comigo? — perguntei assim que me acomodei.— Não aqui. — olhou para mim como se tivesse falado algo tão óbvio.— Aonde, então?— Para onde quer ir?Ofereci meu olhar mais intenso. Buscava detectar qualquer vestígio de brincadeira em si, mas não havia, então decidi colocar o cinto de segurança e me pronunciar.— Eu, particularmente, estou com fome. — dito isso, me virei para a janela para esconder meu sorriso.— Podemos ir para minha casa?Me virei bruscamente e o homem me olhava.— Eu tenho que chegar cedo, então não. — Pedi permissão a tua mãe para te levar para sair e depois para casa.— O que? Com que permissão você pediu permissão para minha mãe? Não, espera...você pediu permis
Passaram-se dias que iam na mesma lentidão com a qual minhas feridas sarravam. Não me importava mais com o passado, mas sim com o futuro. Me cansei tanto de lembrar e reviver, que tinha decidido brincar de adivinhas com o tempo. Cada dia era um dia, me encolhia no embalo do acontecer e me permitia crescer e cicatrizar, por mais que várias coisas tivessem mudado.Quase no fim da manhã, olhava para meu reflexo banhado de desânimo. Era oque mais via no meu reflexo, todas as noites e todos os dias.Minha expressão estava indecisa, não sabia se ficava empolgada ou irritada por ter que voltar para escola. Minha calcinha cobria minha indecência, o resto era exposto como se já não me coubesse nem interessasse esconder. Alguns raios solares aqueciam-me a pele de forma fraca, parecia que choviam grãos de poeira, tendo os raios como holofotes para seu espetáculo slow. Estava tudo em câmera lenta, que parecia a forma mais sensata que Deus arranjou para t
Passei a ter uma nova definição de fim do mundo: eu, Weben, meus pais e sua mãe na mesma sala, prestes a resolver um assunto que, sinceramente, teve o desfecho que teve e devia ser o suficiente.Minha casa deixou de me parecer o lugar mais seguro, principalmente quando meu pai estava nela. Foi assim por três dias e algumas horas até sábado à tarde. Naquele momento, eu estava de frente para todos, sob o olhar extremamente zangado de meu pai, com o corpo tenso e lágrimas traçando trilhos gordos pelo rosto. Meu olhar ia de meu pai ao chão quando todo o funcionamento do meu corpo era baseado no medo que passei a sentir, pois o homem na minha frente era exactamente o oposto do que esperava quando estava no hospital.Parecia que o diabo fazia piruetas pela sala enquanto atirava flocos de tensão para o ar, talvez fosse por isso que ele pesava tanto.Meu pai gritava como nunca gritou comigo. Não quis prestar atenção no que dizi
- Posso falar contigo? - Weben decidiu finalmente quebrar o silêncio.Me observou arrumar minhas coisas durante muito tempo e não falou nada. Não que fosse necessário-se bem que não me apetecia conversar, naquele momento-,mas seu silêncio começava a me incomodar.- Pode. - me virei de frente para ele sem deixar de dobrar as poucas peças de roupa que tinha.- Posso te perguntar algo?- Pode. - assenti e deixei de fazer oque fazia para cruzar os braços.- Você queria ter aquele bebé? Não quero soar irritante, só quero saber.Olhei para seus olhos que transmitiam sinceridade e me aproximei lentamente da maca na qual me sentei e respirei fundo antes de falar.- Sinceramente? - assentiu e parou de frente para mim- Sim e não.- Porquê?- Porque eu tinha começado a gostar de gestar, posso dizer que já senti oque é quere
Último capítulo