Anyellen não dormiu.
O travesseiro carregava vestígios do sal dos seus olhos, e o lençol, as marcas de um corpo que se revirou a noite inteira, como se o coração quisesse fugir da pele.
Lá fora, o sol ainda era só um esboço de luz. Mas dentro dela, a certeza já iluminava o que a mente insistia em apagar.
Ela se sentou na cama com lentidão. O cabelo bagunçado, os olhos fundos, os lábios ainda trêmulos de tudo o que não disse.
Havia um tipo de dor que não ardia, apenas pesava. E era com esse peso que ela levantou e começou a dobrar roupas sem olhar.
Uma mala no chão.
Alguns cadernos.
A pasta com os desenhos das crianças.
E uma blusa azul que, sem querer, ela cheirou antes de guardar.
O perfume dele.
Miguel.
O nome ficou entre os dentes como uma palavra proibida.
“Eu vou embora”, sussurrou para si mesma.
Mas até o espelho parecia duvidar.
Letícia bateu à porta com aquela doçura ensaiada. Tão gentil, tão bem programada.
— Você tá bem?
Perguntou, observando a mala semiaberta e o olhar a