No quarto me deitei abraçada no travesseiro e encarei o teto. Como se as rachaduras ali pudessem me explicar por que ele mexia comigo de um jeito que ninguém mais conseguia. Como se, naquele silêncio, eu conseguisse esquecer o modo como ele sussurrou “olha pra mim” e entrou em mim como quem queria morar ali. Não só no corpo. Mas em tudo.
E se ele for diferente?
E se ele não me machucar?
E se, por um acaso insano do destino, ele realmente estiver tentando me amar?
Meu corpo respondeu com um arrepio, mas minha mente gritou:
“Não se engane, Anyellen.”
Mas pela primeira vez… eu queria estar errada.
...
Acordei no meio da madrugada. A garganta seca. O coração acelerado.
Peguei o celular.
Nenhuma mensagem.
Pensei em escrever. Algo breve. Um “obrigada por ontem”. Ou um “foi só uma noite, não crie expectativas”.
Mas seria mentira. Eu sabia.
O que tivemos não cabia num “foi só”.
E foi por isso que eu não escrevi nada. Porque, se fosse pra mentir, eu preferia o silêncio. E se fosse pra admitir.