A luz da manhã atravessava as persianas e se deitava sobre a pele de Anyellen como uma denúncia silenciosa. Ela estava ali, deitada na cama dele, o lençol preso entre as coxas, o corpo ainda vibrando com memórias sensoriais que não queria nomear.
Do outro lado do colchão, Miguel dormia. Não um sono leve. Era um descanso entregue, sereno, como se tivesse soltado todas as armaduras que o protegiam da vida.
Ela o observou por longos minutos, sentada na borda da cama, a camisa dele escondendo as marcas no seu pescoço, nas coxas, entre as pernas. Mas nenhuma roupa podia encobrir o que estava gravado mais fundo: o arrepio constante, a lembrança do toque dele e a maneira como ela disse “mais”, mesmo quando o corpo já tremia de prazer.
Ela tentou silenciar a consciência, mas o coração gritava.
Levantou-se devagar, passou pelo espelho do corredor e parou.
Havia algo nos olhos refletidos ali que ela ainda não tinha coragem de encarar. Algo entre culpa e saudade. Como se já soubesse que